BRASÍLIA - A saída de Fernando Gabeira do PT consumou-se ontem, com um discurso na Câmara.
Sua fala foi duríssima. Afirmou ter sonhado "o sonho errado". Imaginou que o governo do PT pudesse transformar o Brasil. Comparou a administração de Lula à "velha esquerda comunista do Leste Europeu".
Alguém pode enxergar exagero no discurso de Gabeira. Mesmo porque, sejamos sinceros, a repercussão da saída do deputado se dará apenas entre os integrantes da elite que lêem jornal. Pouco ou nada será sentido pela imensa massa de eleitores que escolheu Lula presidente.
Ainda assim, Gabeira bateu onde deve doer nos integrantes do governo Lula -sobretudo nos que pensam e têm alguma pretensão de deixar uma marca de mudança no país.
Em síntese, o deputado parece ter concluído que o governo petista não avançará nenhum milímetro além do que permite a política tradicional. Pior do que isso: é frágil o movimento social organizado capaz de pressionar o PT a andar para a frente.
Quando era oposição, o PT funcionava como principal força motriz de manifestações contra o governo federal. É difícil aferir cientificamente, mas muitos avanços registrados no país durante os oito anos de FHC devem ser em parte creditados à pressão social organizada por petistas em direção ao Palácio do Planalto.
Hoje, quem é o PT do PT? Não existe. Os dois principais partidos de oposição, PSDB e PFL, não são capazes de encher uma Kombi com manifestantes. Os maiores protestos que sobraram no país são daquilo que mais atrasado existe -uma parcela dos funcionários públicos, não todos, que só pensa em manter privilégios obtidos no passado.
Gabeira diz pretender trabalhar com grupos de pressão na sociedade. Declarou-se aliviado ao sair do "ambiente da esperança sufocada". Possivelmente outros petistas queiram fazer o mesmo. Mas ficam no governo porque é mais confortável.


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