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CLÓVIS ROSSI
O poder e a esquerda
SÃO PAULO - À primeira vista, a proposta é sedutora: redirecionar o gasto
social de forma a evitar que uma suculenta fatia seja apropriada pelos
mais ricos.
Dito assim, sem qualificações, só os
ricos podem ser contra.
Mas é preciso fazer uma segunda,
terceira e talvez até uma quarta ou
quinta leitura.
Primeiro, convém lembrar que a
proposta do Ministério da Fazenda é
a mesma que fez a economista Maria
da Conceição Tavares subir nas tamancas, meses atrás, e ofender pesadamente Marcos Lisboa, o secretário
de Política Econômica da Fazenda,
co-autor da proposta, ao lado do próprio Antonio Palocci.
Em termos políticos, mexe, pois,
com demônios do PT.
Mas não é o mais importante. Seria
preciso, antes de aceitar a suposta
justiça social do esquema, qualificar
o que ou quem é rico no Brasil. Quem
ganha 10 salários mínimos (ou R$
2.400) é rico?
Pela comparação com a massa de
miseráveis, até é. Mas é muito provável que não passe de um classe-média
com imensas dificuldades para fazer
o mês durar tanto quanto o salário,
ainda mais se tiver filhos.
Tirar dessa gente o benefício da dedução do Imposto da Renda daquilo
que gasta com educação e saúde dificilmente pode ser o último prego no
caixão da classe média.
Justiça social se fará se e quando o
poder público oferecer educação e
saúde de qualidade para todos os que
necessitam de uma ou da outra. Essa
deveria ser a meta de qualquer governo. É difícil, talvez até impossível,
mas abdicar dela, em nome de preservar um saldo fiscal elevado para
pagar juros da dívida, aí é que não é
justiça social nem a pau.
Dá, ao contrário, a impressão de
que o grande frasista (e petista) que
foi Carlito Maia tinha razão quando
disse, certa vez, que "o poder endireita a esquerda".
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