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FERNANDO RODRIGUES
O erro e a covardia
BRASÍLIA - São raros os momentos
em que um governo consegue ser tão
contraditório e errar tanto sobre o
mesmo tema. Foi o caso do veto à verba orçamentária para instituições filantrópicas particulares que cuidam
de portadores de deficiência.
Ao tirar R$ 8,7 milhões anuais de
entidades como as Apaes, o Palácio
do Planalto cometeu um desastre político e um acerto técnico. Em seguida, demonstrou covardia. O desfecho
está em aberto, pois Lula prometeu
editar uma medida provisória.
O erro político foi ter usado a força
de um argumento econômico para lidar com um drama humano. Não
tem dinheiro para gastar com deficientes. Para fazer propaganda, não
falta: R$ 1,018 bilhão em 2002.
O acerto técnico está no fato de que
o Congresso havia aprovado uma lei
que conflitava com outra que havia
criado o Fundef (o fundo do ensino
fundamental). As entidades prejudicadas com o veto de Lula cuidam de
pessoas de várias idades e não são
exatamente instituições de ensino.
Lambança feita, a covardia petista
se consubstanciou 24 horas depois. O
dinheiro não sairá mais do Fundef,
mas de um outro fundo que ainda está para ser criado.
A falta de coragem é nítida no desinteresse do governo em discutir a
função dessas instituições privadas
sem fins lucrativos que cuidam de
portadores de deficiência.
Eis o que diz Eugênia Fávero, procuradora da República que atua nessa área: "É cômodo para um prefeito
ter uma Apae na sua cidade. Ocorre
que a tendência é a criança deficiente
ficar apenas na Apae, sem a convivência com as outras crianças na escola. A Apae faz um trabalho importante, mas o ideal é que seja de apoio,
e não exclusivo".
Antes de concluir, uma ressalva:
nada contra as Apaes. Mas o fato
concreto a respeito desse incidente é
que a política de inclusão dos deficientes na sociedade nunca recebeu
tanto apoio como teve agora o lobby
pela lei que beneficia as Apaes.
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