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CINZAS DA HISTÓRIA
É inquietante a notícia de que
arquivos militares teriam sido
queimados na Base Aérea de Salvador. De acordo com reportagem do
"Fantástico", da TV Globo, prontuários, fichas e relatórios produzidos
por órgãos de informação das Forças
Armadas foram incinerados. Parte
do material escapou ao fogo. São papéis que datam de 1964 até 1994, já
sob vigência do regime democrático.
O episódio deveria servir para acelerar a abertura dos arquivos da ditadura militar (1964-1985) e anteriores
que ainda permaneçam secretos. Se
fichários foram queimados em Salvador, há razões para temer que muitos outros papéis estejam enfrentando o mesmo destino em vários outros pontos do país. As perdas para a
história podem ser irreparáveis.
Tão importante quanto franquear o
acesso do público aos arquivos históricos do regime militar e estabelecer um marco regulatório decente
para a liberação de documentos secretos -do qual a lamentável figura
do sigilo eterno seja definitivamente
proscrita- é fomentar uma cultura
do arquivo público. Tudo o que um
servidor do Estado diga ou escreva
no exercício de suas funções deve em
princípio converter-se em documentação que um dia será franqueada à
população -e ao escrutínio dos historiadores. O que quer que um agente público atuando nessa condição
faça não lhe pertence nem à sua privacidade, mas à população sob cujo
mandato ele agiu.
É claro que determinados papéis
podem precisar permanecer ocultos
por algum tempo, considerando-se
que segredos de Estado são um mal
necessário. Todavia o sigilo, que
sempre deve ser provisório, precisa
ficar restrito a casos realmente justificáveis. Preservar documentos longe
dos olhos da sociedade deve ser a exceção e não a regra.
É essa cultura que está faltando ao
país. Além de contribuir enormemente para a historiografia, ela ajudaria a estabelecer a noção republicana de que o servidor público deve satisfações à população.
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