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CLÓVIS ROSSI
A aula de Cosme, o Lula de ontem
SÃO PAULO - O velho sábio que habita esta Folha costuma contar que,
um dia, encontrou-se com o governador do Estado (biônico, à época) e
lhe perguntou por que gostava tanto
de ser governador, se parecia talhado
para outras funções.
"Ah, meu amigo, se você soubesse
como é bom passar quatro anos sem
precisar nem sequer pôr a mão na
maçaneta da porta porque sempre
tem alguém para abrir para você...",
respondeu o governador.
Pois é. No Brasil, governar é isso. É
dispensar-se até de abrir portas.
Podia-se acreditar que, com Luiz
Inácio Lula da Silva, seria diferente.
Não é, a julgar pela lição do menino
Cosme de Oliveira Júnior, 11 anos,
em pleno Palácio do Planalto.
"Eu queria que o senhor voltasse às
ruas para ver a realidade de hoje. A
situação é precária", discursou Cosme, que seria mais ou menos o Lula
de ontem.
Não satisfeito, cobrou mais fiscalização sobre o trabalho infantil, mais
recursos para o programa de erradicação dessa velha praga, mais empregos para os adultos e puxou a orelha do presidente:
"O senhor se lembra de quando era
pequeno? E como o senhor se sentia
quando era uma criança pobre e trabalhadora? Eu tenho certeza de que
não gostava. Deve saber como é passar fome".
O discurso de Cosme vale mais do
que mil colunas e ainda tem a vantagem de que não pode ser desqualificado como obra do "tucanato", como os petistas tolos o fazem para não
encarar a realidade.
É também o melhor balanço dos
dois anos de governo de Luiz Inácio
Lula da Silva, o ex-Cosme. O presidente, que se gabou a vida inteira de
ter feito um curso intensivo de Brasil,
percorrendo-o de cabo a rabo mais
de uma vez, segundo dizia, agora é
aconselhado por um garoto a voltar
as ruas "para ver a realidade de hoje". Realidade "precária".
Duvido que o faça. Tem sempre alguém para lhe contar a realidade
que ele quer ouvir.
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