São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Direitos humanos, conquista do homem
HÉLIO BICUDO
No mesmo sentido, as Constituições dos Estados livres, inclusive a brasileira, não poderiam olvidar tudo aquilo que a consciência mundial construíra para uma nova concepção de democracia, em cuja essência estão os direitos humanos. Não são, portanto, conturbações que ocorrem há alguns anos a esta parte e que são fruto, na maioria das vezes, de omissões na condução do Estado que devam justificar mudanças de rumo no que concerne à proteção dos direitos da pessoa. Um indivíduo que cometeu um crime deve ser julgado segundo o devido processo legal e, se condenado, sujeito a um sistema que objetive sua ressocialização. Quem conhece a realidade das prisões brasileiras há de concluir que o que está acontecendo se deve à corrupção e à violência que ali fazem praça; isso porque nos perdemos no tempo e nos deixamos ficar nas concepções prisionais do século 19. Ora, se um preso usa um telefone celular, se se serve das visitas para atuar externamente, tal não se deve ao princípio da progressividade das penas e o respeito pelos direitos do preso, mundialmente reconhecidos, mas pelo tráfico que é a tônica no sistema carcerário brasileiro. De que vale determinar o isolamento de um criminoso por um ano, se ele vai contar com a corrupção do pessoal penitenciário para permanecer em contato com o mundo exterior? Sem dúvida, temos todos o direito de andar nas ruas, tomar uma condução, ir a um teatro, morar em nossas casas sem maior risco. Mas não podemos esquecer que, ao nosso lado, residem a miséria, a fome e o desemprego a inspirar ações violentas decorrentes da própria violência da situação em que se encontram os seus sujeitos. E, ademais, não são penas pesadas e seu cumprimento cruel que podem ser apontados como fator de diminuição da criminalidade. O sequestro, considerado crime hediondo, punido com altas penas, de cumprimento obrigatório, não diminuiu de incidência com essa qualificação. Ao contrário, ela aumentou. Na verdade, para atingirmos um mínimo de segurança, precisamos investir naquilo em que nunca se investiu com seriedade: a reforma dos aparelhos policial e judicial e, como consequência, no próprio sistema penal. Fora daí, é fazermos coro contra direitos que nasceram com a pessoa humana, mas que só se atribuem às minorias privilegiadas. Hélio Bicudo, 80, advogado e jornalista, é vice-prefeito do município de São Paulo e presidente da CMDH-SP. Foi deputado federal pelo PT-SP (1990-94 e 1995-98) e presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da OEA (Organização dos Estados Americanos). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Benedito Tadeu de Oliveira: Salvemos Ouro Preto Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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