São Paulo, domingo, 16 de maio de 2010

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Editoriais

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Volta ao passado

INSÓLITAS lembranças e imagens espectrais percorrem, quando menos se espera, um debate político do qual não tem emergido muita luz.
No programa eleitoral de Dilma Rousseff, exibido nesta quinta-feira, o presidente Lula associou a imagem da candidata do PT à do líder sul-africano Nelson Mandela. A justificativa seria a de que, como o Prêmio Nobel da Paz, a ex-ministra da Casa Civil passou por brutal repressão política antes de consolidar-se -supostamente- como fator de união nacional.
Um oceano de diferenças separa, naturalmente, Dilma Rousseff do líder antiapartheid, e não seria o caso de condensá-lo neste espaço. Seja como for, e ainda que um observador irônico possa dizer que a candidata do PT tem mais de mandona do que de Mandela, o programa eleitoral desta semana teve um mérito.
A saber, o de ter feito referência, desde os primeiros minutos, ao passado político de Dilma -que setores mais extremados da oposição vinham tentando explorar de modo inoportuno.
A pecha de "terrorista", invocada contra ela, tem no Brasil democrático de hoje o mesmo significado que teriam as de "subversivo" e "comunista" para descrever José Serra, seu adversário do PSDB. Este logo lembrou, aliás, que também foi perseguido pelo regime militar.
Os candidatos de 2010 não devem ser julgados pelas convicções que tinham em 1964. É o compromisso que tenham, hoje, com os direitos humanos, a liberdade de expressão, o sistema de mercado e a democracia que merece ser cobrado a todo instante.
Chega a ser curioso que, depois de encerradas as discussões sobre a revisão da Lei da Anistia, haja setores ainda interessados em recuperar um clima de caça às bruxas -na direita e na esquerda- que a sociedade brasileira lutou tanto para superar.


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