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Editoriais
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Volta ao passado
INSÓLITAS lembranças e imagens espectrais percorrem,
quando menos se espera, um
debate político do qual não tem
emergido muita luz.
No programa eleitoral de Dilma Rousseff, exibido nesta quinta-feira, o presidente Lula associou a imagem da candidata do
PT à do líder sul-africano Nelson
Mandela. A justificativa seria a
de que, como o Prêmio Nobel da
Paz, a ex-ministra da Casa Civil
passou por brutal repressão política antes de consolidar-se -supostamente- como fator de
união nacional.
Um oceano de diferenças separa, naturalmente, Dilma Rousseff do líder antiapartheid, e não
seria o caso de condensá-lo neste
espaço. Seja como for, e ainda
que um observador irônico possa
dizer que a candidata do PT tem
mais de mandona do que de
Mandela, o programa eleitoral
desta semana teve um mérito.
A saber, o de ter feito referência, desde os primeiros minutos,
ao passado político de Dilma
-que setores mais extremados
da oposição vinham tentando
explorar de modo inoportuno.
A pecha de "terrorista", invocada contra ela, tem no Brasil democrático de hoje o mesmo significado que teriam as de "subversivo" e "comunista" para descrever José Serra, seu adversário
do PSDB. Este logo lembrou,
aliás, que também foi perseguido
pelo regime militar.
Os candidatos de 2010 não devem ser julgados pelas convicções que tinham em 1964. É o
compromisso que tenham, hoje,
com os direitos humanos, a liberdade de expressão, o sistema de
mercado e a democracia que merece ser cobrado a todo instante.
Chega a ser curioso que, depois
de encerradas as discussões sobre a revisão da Lei da Anistia,
haja setores ainda interessados
em recuperar um clima de caça
às bruxas -na direita e na esquerda- que a sociedade brasileira lutou tanto para superar.
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