São Paulo, domingo, 16 de junho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

O gerente e a emoção

BRASÍLIA - Sai o sociólogo, entra o gerente. Será um pouco essa a transição que se dará no Brasil na hipótese de José Serra, ungido ontem como candidato oficial do PSDB à Presidência da República, ganhar a eleição presidencial.
A equipe que está trabalhando nos planos de governo recebeu a clara orientação de, a cada projeto, definir de onde virá o dinheiro e, em seguida, avaliar o impacto econômico e social que terá no seu entorno.
Pela carência de recursos para investimentos, a palavra de ordem é foco. Investir naquilo que seja realmente prioritário e que produza o que os técnicos chamam de "efeito estruturante", ou seja, que cause o máximo possível de impacto ao mínimo custo possível.
Exemplo concreto: o número de mandados de prisão não cumpridos no Brasil é de cerca de 300 mil. Desses, apenas 2.000 referem-se a criminosos realmente perigosos (os números podem não ser rigorosamente esses, mas a ordem de grandeza é). Prender 300 mil pessoas é missão impossível. Prender 2.000 não só é factível como, ao menos em tese, reduz o teor de violência de forma bastante significativa.
Por falar em segurança pública, a idéia é investir pesado em inteligência e em informação, tidas como pré-requisitos básicos para uma ação policial eficaz.
Menciono o exemplo porque parece honesto. Não está sendo usado, ao menos até agora, como arma de propaganda, não tomou ainda a forma de promessa de campanha -das quais aprendi a desconfiar.
A idéia de um gerente na Presidência da República combina à perfeição com as características de Serra. O diabo é que, para chegar a ela, será preciso mais que projetos, focados ou não, corretos ou não, mais que idéias, brilhantes ou demagógicas.
Não há como eleger-se sem uma dose de emoção mais ou menos forte. Emoção é coisa que não parece combinar com Serra. Talvez um bom marqueteiro, como Nizan Guanaes o é, dê jeito. Se não, sobrará um gerente frustrado.



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