São Paulo, domingo, 16 de junho de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Ordem unida

BRASÍLIA - Parece incongruência, mas o pior problema de Lula foi a disparada nas pesquisas, a percepção de que é imbatível no primeiro turno e mais forte do que todos os demais nas projeções do segundo.
Desde então, o mundo (quase literalmente) começou a cair na cabeça e na campanha de Lula. George Soros foi apenas o maior petardo, mas não o único. A divindade mercado, que Soros personifica como ninguém, exige de Lula e do PT o que eles não podem dar: a garantia de que nada vá mudar. Se nada muda, por que votar em Lula e não em José Serra, por exemplo?
O dilema da mais forte campanha de oposição é que ela caiu numa armadilha. Ou se rende para acalmar o público externo e a economia, ou mantém o discurso -por coerência e para animar o eleitorado interno.
Investidores internacionais e especuladores brasileiros esperam que Lula e o PT digam que vão honrar os contratos, pagar as dívidas, manter o arrocho fiscal, acolher todas as regras já estabelecidas. O que, como dois mais dois são quatro, significa manter a dramática dependência externa, principal causa da crise.
Acuados, sem saída, os petistas improvisam propostas, se contradizem, passam a sensação de estarem batendo cabeça.
Ontem mesmo, enquanto o PSDB e Serra vendiam uma imagem de força, numa convenção plasticamente impecável, lia-se nos jornais que o PT quer indicar logo o presidente do Banco Central e, logo abaixo, que Lula não admite isso.
A culpa pode nem ser do partido e do candidato, mas das circunstâncias e de pressões ilegítimas do que o deputado José Genoino chama de "sistema", mas o fato é que a coisa não anda bem.
Lula continua disparado na frente, mas Serra parece crescer devagar e sempre numa eleição que ainda tem três meses e meio e a propaganda televisiva pela frente.
A campanha de Lula precisa rapidamente de um freio de arrumação. Um freio, por exemplo, para o excesso de gente falando pelo candidato. Cada um numa direção diferente.



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