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FARSAS ESTATÍSTICAS
É célebre a sentença de que a
história se repete como farsa.
Um exemplo eloquente desse roteiro
é o debate em torno dos índices de
desemprego calculados pela Fundação Seade e pelo Dieese.
Uma série de artigos no jornal "Valor" trouxe a público um enredo que
lembra outro momento, de um passado nem tão remoto, em que um
ministro do governo militar tentou
manipular índices de inflação para
conter a mobilização pela reposição
salarial. O novo diretor da Seade, vinculada à Secretaria de Economia e
Planejamento do Estado de São Paulo, José Eli da Veiga, estaria inclinado
a suspender a publicação do índice
de desemprego por considerar que
se trata de um número cujo cálculo
conteria "exagero", induzindo a demandas "populistas".
A nova direção do órgão paulista,
no entanto, não interromperia o cálculo, dado que a série histórica já coletada é preciosa. Apenas suspenderia a sua publicação na forma atual,
que, na visão de Veiga, cria desconforto na população e alarma desnecessariamente os governos.
A imagem da quebra do termômetro para "curar" a febre não é nova.
Se o índice Seade-Dieese revela um
desemprego oculto, não será a ocultação do índice que melhorará a realidade em benefício de trabalhadores
ou autoridades, empresas e opinião
pública.
O episódio mostra o quanto ainda
se tem para aprender sobre a construção da democracia no país. As estatísticas não são falsas ou verdadeiras em si mesmas, porém exigem debate público transparente para que
as interpretações inevitavelmente
conflitantes possam contrapor-se
aberta e racionalmente.
Manipular informações importantes para a sobrevivência e o futuro do
trabalhador brasileiro em nome de
revisões supostamente técnicas seria
uma farsa que, na prática, não prestaria um bom serviço à democracia e
ao desenvolvimento do país.
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