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São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 2003

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FARSAS ESTATÍSTICAS

É célebre a sentença de que a história se repete como farsa. Um exemplo eloquente desse roteiro é o debate em torno dos índices de desemprego calculados pela Fundação Seade e pelo Dieese.
Uma série de artigos no jornal "Valor" trouxe a público um enredo que lembra outro momento, de um passado nem tão remoto, em que um ministro do governo militar tentou manipular índices de inflação para conter a mobilização pela reposição salarial. O novo diretor da Seade, vinculada à Secretaria de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo, José Eli da Veiga, estaria inclinado a suspender a publicação do índice de desemprego por considerar que se trata de um número cujo cálculo conteria "exagero", induzindo a demandas "populistas".
A nova direção do órgão paulista, no entanto, não interromperia o cálculo, dado que a série histórica já coletada é preciosa. Apenas suspenderia a sua publicação na forma atual, que, na visão de Veiga, cria desconforto na população e alarma desnecessariamente os governos.
A imagem da quebra do termômetro para "curar" a febre não é nova. Se o índice Seade-Dieese revela um desemprego oculto, não será a ocultação do índice que melhorará a realidade em benefício de trabalhadores ou autoridades, empresas e opinião pública.
O episódio mostra o quanto ainda se tem para aprender sobre a construção da democracia no país. As estatísticas não são falsas ou verdadeiras em si mesmas, porém exigem debate público transparente para que as interpretações inevitavelmente conflitantes possam contrapor-se aberta e racionalmente.
Manipular informações importantes para a sobrevivência e o futuro do trabalhador brasileiro em nome de revisões supostamente técnicas seria uma farsa que, na prática, não prestaria um bom serviço à democracia e ao desenvolvimento do país.


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