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VINICIUS TORRES FREIRE
Política, para variar
SÃO PAULO - Os nativos estão inquietos, diziam os buanas brancos
dos filmes de aventura na África dos
anos 40 e 50 quando almas de outro
mundo ou de outras tribos assustavam os carregadores de badulaques
coloniais. Lula da Silva continua popular, mas a crise inquieta os nativos,
quase todos nós de fora do governo.
Janio de Freitas comentou ontem
nesta Folha a série de implosões no
edifício governista da semana passada. Mas não há só fogo amigo de deputados do PT ou de ex-aliados de
ontem, como petistas de cátedra e
servidores públicos.
As bases do MST estão nervosas e
ativas. Empresários até há pouco
simpáticos ao governo já falam grosso. Começou a eleição na maior associação do empresariado, a Fiesp
-balas perdidas do discurso eleitoreiro tendem a pegar no governo. A
ameaça de recessão ferve o ambiente
das relações entre patrões e empregados, e o caldo ameaça entornar. O
centralismo autocrático de José Dirceu ameaça levar o jogo político para
o tudo ou nada.
Em março, o comitê central de Lula, os ministros que de fato mandam,
diziam em conversas reservadas que
a prioridade do governo era ganhar
força política -aprovar as reformas- e estabilizar a economia. Admitiam a barafunda do ministério de
Lula, a confusão na política social e
que era preciso mais que juro alto para acertar a economia. Novas medidas econômicas apareceriam em julho, mudanças no ministério ficariam para o terço final do ano. Mas o
ano encurtou, digamos.
O ambiente está turvo e não se deve
desanuviar tão cedo, embora o risco
de crise social e política não esteja
ainda no horizonte. Uma válvula de
escape é o corte dos juros. Não se trata de tisnar a política monetária de
populismo. Mas a oportunidade de
aliviar o arrocho está dada. Até os
economistas conservadores, que subestimaram gravemente o grau de
recessão na indústria, o admitem, assim como o mercado de juros futuros,
que já chancela o corte da Selic. Não
fazê-lo será sinal de birra infantil para mostrar autonomia, uma politização tola da política econômica.
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