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São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

Política, para variar

SÃO PAULO - Os nativos estão inquietos, diziam os buanas brancos dos filmes de aventura na África dos anos 40 e 50 quando almas de outro mundo ou de outras tribos assustavam os carregadores de badulaques coloniais. Lula da Silva continua popular, mas a crise inquieta os nativos, quase todos nós de fora do governo.
Janio de Freitas comentou ontem nesta Folha a série de implosões no edifício governista da semana passada. Mas não há só fogo amigo de deputados do PT ou de ex-aliados de ontem, como petistas de cátedra e servidores públicos.
As bases do MST estão nervosas e ativas. Empresários até há pouco simpáticos ao governo já falam grosso. Começou a eleição na maior associação do empresariado, a Fiesp -balas perdidas do discurso eleitoreiro tendem a pegar no governo. A ameaça de recessão ferve o ambiente das relações entre patrões e empregados, e o caldo ameaça entornar. O centralismo autocrático de José Dirceu ameaça levar o jogo político para o tudo ou nada.
Em março, o comitê central de Lula, os ministros que de fato mandam, diziam em conversas reservadas que a prioridade do governo era ganhar força política -aprovar as reformas- e estabilizar a economia. Admitiam a barafunda do ministério de Lula, a confusão na política social e que era preciso mais que juro alto para acertar a economia. Novas medidas econômicas apareceriam em julho, mudanças no ministério ficariam para o terço final do ano. Mas o ano encurtou, digamos.
O ambiente está turvo e não se deve desanuviar tão cedo, embora o risco de crise social e política não esteja ainda no horizonte. Uma válvula de escape é o corte dos juros. Não se trata de tisnar a política monetária de populismo. Mas a oportunidade de aliviar o arrocho está dada. Até os economistas conservadores, que subestimaram gravemente o grau de recessão na indústria, o admitem, assim como o mercado de juros futuros, que já chancela o corte da Selic. Não fazê-lo será sinal de birra infantil para mostrar autonomia, uma politização tola da política econômica.


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