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São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

Fatos iguais

BRASÍLIA - Uma curiosidade na política é ver como certas atitudes são interpretadas pelo eleitorado e pela mídia. A depender do protagonista, a reação pode variar 180 graus.
Tome-se o caso do ministro das Comunicações, Miro Teixeira. Deputado federal pelo PDT do Rio de Janeiro, pertence a um partido que hoje faz oposição sistemática ao governo de Lula. Pouco se ouve de Miro, exceto que o próprio presidente da República se incumbiu de encontrar um novo partido para seu auxiliar ter condições de permanecer na Esplanada dos Ministérios.
No governo FHC, ocorreu algo semelhante. O então PPB de Paulo Maluf (hoje PP) encrespou-se contra o Planalto. FHC não deu bola. Manteve o deputado federal Francisco Dornelles, desse partido, como ministro. À época, falava-se sobre o apego de Dornelles ao cargo.
A rigor os casos de Miro e de Dornelles são parecidos. Ou até idênticos. Mas de Miro ninguém fala em apego.
Outro episódio digno de lembrança era quando FHC atuava de maneira entrosada com o então presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), para enterrar CPIs incômodas. Falava-se em profissionalismo (sic) e rolo compressor.
Agora, Lula parece ter dificuldades para fazer com que o atual presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), sepulte de uma vez a CPI do Banestado. O mais comum nos corredores do Congresso é ouvir que falta profissionalismo (sic) a João Paulo e que o deputado é ingênuo e se recusa a dividir com o Planalto o custo político de engavetar a investigação.
É possível que exista ingenuidade no comportamento de João Paulo. Mas, certamente, para sorte do país, esse traço de comportamento poderia ser útil -com o pleno funcionamento da CPI do Banestado.
A parcela da mídia sempre a favor do governo, qualquer governo, prefere mais o "profissionalismo" do que outra coisa. É atávico.


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