|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
PT, EUA e esquizofrenia
MADRI- Marco Aurélio Garcia, o assessor internacional do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, queixa-se
de uma espécie de esquizofrenia no
noticiário sobre a posição do governo
petista em relação aos EUA.
Lembra que, há três semanas, havia um tiroteio sobre Lula por, supostamente, ter "capitulado" diante de
seu colega George W. Bush ao aceitar
a data de 2005 para terminar as negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Foi uma interpretação exagerada.
Se capitulação houve, ela se deu bem
antes, quando Lula se reuniu com
Bush ainda antes da posse. Já então
ele dizia que pretendia esforçar-se
para a rápida conclusão dos entendimentos em torno da Alca.
A confusão é fácil de explicar: como
o PT julgava a Alca uma "anexação"
da América Latina pelos Estados
Unidos, a lógica mandava supor que
a negociação seria rompida assim
que Lula assumisse. Não foi. Mais: ele
comprometeu-se a respeitar contratos, e o prazo de 2005 é, sim, um contrato assinado por seu antecessor
com os países da Alca.
Agora, o pêndulo da esquizofrenia
vem para o ponto inverso: Lula teria
criticado os Estados Unidos ao falar
na reunião da "Terceira Via".
Não criticou. Ao contrário, defende
a tese de que todos os países deveriam
fazer como os Estados Unidos, ou seja, ter um projeto nacional e, por extensão, pensar só em si.
"Foi um comentário descontraído,
e as pessoas ficam tentando criar
confusão", diz Marco Aurélio, sem
nomear "as pessoas".
De novo, a confusão é fácil de explicar: quando "se descontrai", Lula faz
comentários muito longos e vai entremeando personagens, conceitos,
vírgulas etc. entre o sujeito da frase e
o verbo. Ao final da fala, cada um
pinça a frase mais espalhafatosa, o
que tende a dar margem à confusão.
Mas o episódio de agora é "tempestade em copo de água", diz Marco
Aurélio. A intenção do governo Lula
é, sim, a de construir uma relação
muito boa com os EUA.
Se é possível com descontração e
sem capitulação, o tempo dirá.
Texto Anterior: Editoriais: A REFORMA DA LUZ
Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: O ideal e o possível Índice
|