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São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

PT, EUA e esquizofrenia

MADRI- Marco Aurélio Garcia, o assessor internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, queixa-se de uma espécie de esquizofrenia no noticiário sobre a posição do governo petista em relação aos EUA.
Lembra que, há três semanas, havia um tiroteio sobre Lula por, supostamente, ter "capitulado" diante de seu colega George W. Bush ao aceitar a data de 2005 para terminar as negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Foi uma interpretação exagerada. Se capitulação houve, ela se deu bem antes, quando Lula se reuniu com Bush ainda antes da posse. Já então ele dizia que pretendia esforçar-se para a rápida conclusão dos entendimentos em torno da Alca.
A confusão é fácil de explicar: como o PT julgava a Alca uma "anexação" da América Latina pelos Estados Unidos, a lógica mandava supor que a negociação seria rompida assim que Lula assumisse. Não foi. Mais: ele comprometeu-se a respeitar contratos, e o prazo de 2005 é, sim, um contrato assinado por seu antecessor com os países da Alca.
Agora, o pêndulo da esquizofrenia vem para o ponto inverso: Lula teria criticado os Estados Unidos ao falar na reunião da "Terceira Via".
Não criticou. Ao contrário, defende a tese de que todos os países deveriam fazer como os Estados Unidos, ou seja, ter um projeto nacional e, por extensão, pensar só em si.
"Foi um comentário descontraído, e as pessoas ficam tentando criar confusão", diz Marco Aurélio, sem nomear "as pessoas".
De novo, a confusão é fácil de explicar: quando "se descontrai", Lula faz comentários muito longos e vai entremeando personagens, conceitos, vírgulas etc. entre o sujeito da frase e o verbo. Ao final da fala, cada um pinça a frase mais espalhafatosa, o que tende a dar margem à confusão.
Mas o episódio de agora é "tempestade em copo de água", diz Marco Aurélio. A intenção do governo Lula é, sim, a de construir uma relação muito boa com os EUA.
Se é possível com descontração e sem capitulação, o tempo dirá.


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