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São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

O ideal e o possível

BRASÍLIA - É possível que o presidente Lula carregue o seu governo nas costas, mantenha-se popular por quatro anos e se reeleja em 2006. Essa é a lógica natural no fortíssimo regime presidencialista brasileiro. Foi o que aconteceu com FHC.
Ainda assim, o êxito pode não ser completo. FHC que o diga.
O tucano sucumbiu à necessidade de a política se sobrepor ao econômico. O flagelo do câmbio fixo foi mantido além do devido para ajudar a garantir a reeleição em 1998.
É ingênuo criticar FHC e Lula por se submeterem aos desígnios da política. O Brasil é um país ingovernável. Há uma mixórdia de partidos infestando o Congresso, uma lei eleitoral frouxa e falta de cobrança de responsabilidade dos congressistas.
Nessa conjuntura, é quase um milagre que FHC tenha governado dentro de uma normalidade democrática razoável. Conseguiu passar a faixa para outro presidente eleito de forma direta -um fato raríssimo em toda a história brasileira.
O mérito de cada presidente brasileiro é o de fazer o país avançar a cada mandato. Aí entram os conceitos de "ideal" e "possível". FHC evoluiu dentro do que era possível, apenas arranhando, se tanto, o campo do ideal. Não alargou o limite mesquinho imposto pela política.
Havia e ainda há na sociedade -as pesquisas mostram- uma esperança de que Lula vá além do "possível", do convencional.
A reforma da Previdência será o primeiro teste real. Pelo andar das negociações, servidores públicos futuros terão à sua disposição um fundo de pensão complementar pelo sistema de benefício definido -que acabará dando a integralidade a todos, exatamente como é hoje.
Se confirmada, essa timidez na Previdência será um sinal de que Lula poderá repetir FHC, limitando-se ao "possível" permitido pela política. Será suficiente para se reeleger em 2006, mas pouco para fazer as mudanças urgentes de que o país precisa.


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