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FERNANDO RODRIGUES
O ideal e o possível
BRASÍLIA - É possível que o presidente Lula carregue o seu governo nas
costas, mantenha-se popular por
quatro anos e se reeleja em 2006. Essa
é a lógica natural no fortíssimo regime presidencialista brasileiro. Foi o
que aconteceu com FHC.
Ainda assim, o êxito pode não ser
completo. FHC que o diga.
O tucano sucumbiu à necessidade
de a política se sobrepor ao econômico. O flagelo do câmbio fixo foi mantido além do devido para ajudar a
garantir a reeleição em 1998.
É ingênuo criticar FHC e Lula por
se submeterem aos desígnios da política. O Brasil é um país ingovernável.
Há uma mixórdia de partidos infestando o Congresso, uma lei eleitoral
frouxa e falta de cobrança de responsabilidade dos congressistas.
Nessa conjuntura, é quase um milagre que FHC tenha governado dentro de uma normalidade democrática razoável. Conseguiu passar a faixa
para outro presidente eleito de forma
direta -um fato raríssimo em toda a
história brasileira.
O mérito de cada presidente brasileiro é o de fazer o país avançar a cada mandato. Aí entram os conceitos
de "ideal" e "possível". FHC evoluiu
dentro do que era possível, apenas arranhando, se tanto, o campo do
ideal. Não alargou o limite mesquinho imposto pela política.
Havia e ainda há na sociedade
-as pesquisas mostram- uma esperança de que Lula vá além do "possível", do convencional.
A reforma da Previdência será o
primeiro teste real. Pelo andar das
negociações, servidores públicos futuros terão à sua disposição um fundo
de pensão complementar pelo sistema de benefício definido -que acabará dando a integralidade a todos,
exatamente como é hoje.
Se confirmada, essa timidez na Previdência será um sinal de que Lula
poderá repetir FHC, limitando-se ao
"possível" permitido pela política. Será suficiente para se reeleger em 2006,
mas pouco para fazer as mudanças
urgentes de que o país precisa.
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