![]() São Paulo, quarta-feira, 16 de agosto de 2006 |
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CLÓVIS ROSSI Delinqüente é o Estado SÃO PAULO - André Moysés Gaio,
mestre em ciência política e doutor
em história social, professor da
Universidade Federal de Juiz de
Fora, manda instigante trabalho
cujo título resume tudo: "O Estado
delinqüente".
A intenção de Gaio, para resumir
mais do que deveria, em razão do
espaço, é "apresentar a noção de
Estado delinqüente para explicar
uma modalidade de crime que conta com a iniciativa e a liderança de
agentes públicos". Ou, posto de outra forma, não é que os agentes públicos se corrompam facilmente no
Brasil. É pior: eles tomam a iniciativa, lideram o saque aos bens públicos. Acrescentaria, por minha conta
e risco, outro detalhe: cada vez mais
aparecem implicados agentes públicos graduados. Para ficar só nos
escândalos mais recentes:
1 - Não é mais o recrutazinho que
vende um fuzil para o narcotráfico.
É um coronel envolvido em desvio
de verbas.
2 - Não é mais um juiz de segunda
instância implicado em falcatruas.
É o chefe do Poder Judiciário (caso
de Rondônia).
3 - Não é mais um vereador do
fim do mundo. É a cúpula do Poder
Legislativo (em Rondônia, mas
também no Parlamento federal,
com os casos João Paulo Cunha e
Severino Cavalcanti). Para não falar
nas centenas de parlamentares federais apanhados como "mensaleiros" e "sanguessugas".
4 - Não é mais o policial da esquina subornado para evitar uma multa. É um delegado que fica rico e
seus colegas nem percebem ou fingem que não percebem.
5 - Não é mais o policial federal
comum que entra para o crime. São
dois ex-superintendentes da PF.
O corolário inevitável do teorema
traçado por Gaio é simples: qualquer solução para o pântano brasileira passa, inexoravelmente, por
resgatar o Estado das mão dos delinqüentes. Fácil de falar, quase impossível de fazer.
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