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São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

É possível dizer "não"

CANCÚN - Lembra-se do PT que dizia "não"? Pois é: uma coleção de PTs que disseram "não" pôs a pique, domingo, a Conferência Ministerial da OMC. Refiro-me a um grupo de países em desenvolvimento que disse "não" à insistência do mundo rico em incluir na agenda comercial temas para os quais os pobres e remediados ainda não se sentem preparados.
Pior para o PT que passou a dizer apenas "sim": funciona. O fracasso da reunião da OMC não foi o fim do mundo, os mercados trabalharam ontem com a normalidade habitual, subindo ou baixando de acordo com jogos que não têm muito a ver com a OMC, e a vida continua.
O paradoxal é que o "PT for export" -ou seja, a sua política externa- também estava no clube dos que disseram "não". Foi em outro assunto e contexto, mas foi "não": rebelou-se contra um projeto de texto sobre a abertura do comércio agrícola que não satisfazia o Brasil, arrebanhou um punhado de países em desenvolvimento (praticamente todos os grandes) e enfrentou os Estados Unidos e a União Européia, que tinham a sua própria e modesta proposta conjunta.
Tanto funciona que europeus e norte-americanos ficaram furiosos e passaram quase toda a reunião de Cancún malhando a posição brasileira e de seus novos sócios.
Fico me perguntando se funcionaria também um "não" a, por exemplo, aumentar os juros logo no início do governo ou a aumentar o superávit primário (receitas menos despesas, fora juros) também nos primeiros dias do PT que diz "sim".
Ninguém tem a resposta, claro, porque não é possível saber o que aconteceria se tivesse havido o que não houve. Mas os episódios de Cancún mostram que uma boa amarração com outros países pode servir eventualmente para sustentar políticas internas. A amarração já está feita e não é obrigatório limitá-las aos entendimentos na OMC.
A outra ponta é chamar a sociedade civil (leia-se ONGs) para dizer "não" em conjunto com o governo a exigências do mundo rico incompatíveis com as necessidades internas.


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