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ELIANE CANTANHÊDE
Só faltava essa
BRASÍLIA - Segundo o jornal "USA Today", a novidade agora é que o governo George W. Bush espera uma
mãozinha do Brasil, da Argentina e
do Chile para segurar as pontas no
Iraque. Como? Mandando soldados.
Só nos faltava essa. O presidente
Lula e o Itamaraty condenaram publicamente a decisão americana de
invadir o Iraque sem o prévio aval do
Conselho de Segurança da ONU e,
em sintonia com a opinião pública,
mantiveram todo o tempo uma posição crítica em relação à guerra.
Além disso, o Brasil acaba de perder o diplomata Sérgio Vieira de Mello naquela explosão que detonou a
sede da ONU, deixou os EUA numa
encruzilhada e expôs definitivamente a disposição de setores iraquianos
de resistir à invasão do seu país.
Com a falta de perspectiva, assistindo à morte de seus homens a toda hora e às vésperas de eleições, Bush pede
socorro. Primeiro, à própria ONU,
que desdenhou ao determinar unilateralmente a guerra. Agora até ao
Brasil, que a condenou abertamente.
Lula estará em Nova York na próxima semana para abrir a Assembléia Geral da ONU. Nem deve (ou
deveria) ser preciso perguntar ao Planalto e ao Itamaraty se ele está pensando em mandar tropas brasileiras
como reforço aos 145 mil soldados
americanos, 12 mil do Reino Unido e
mais 15,5 mil de outros 29 países. Não
faz (e não faria) nenhum sentido.
Apesar de já ter ido duas vezes a
Washington, uma antes e outra depois da posse, Lula lidera uma política externa que, para o bem ou para o
mal, diz "não" aos países desenvolvidos. Como foi agora, na confusa reunião da OMC em Cancún, diferente
de tudo o que a gente já viu em termos de negociações pobres-ricos.
Mandar um soldado que seja para
o Iraque, mesmo que sob os pretextos
de "força de paz" e de "reconstrução
do país", seria encampar tardiamente uma guerra que é de Bush e de
Blair e que não tem nada a ver com o
Brasil nem com a América do Sul.
Quem pariu a guerra que a embale.
Já temos guerras suficientes no próprio Brasil e no continente. Contra a
miséria, por exemplo.
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