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São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Só faltava essa

BRASÍLIA - Segundo o jornal "USA Today", a novidade agora é que o governo George W. Bush espera uma mãozinha do Brasil, da Argentina e do Chile para segurar as pontas no Iraque. Como? Mandando soldados.
Só nos faltava essa. O presidente Lula e o Itamaraty condenaram publicamente a decisão americana de invadir o Iraque sem o prévio aval do Conselho de Segurança da ONU e, em sintonia com a opinião pública, mantiveram todo o tempo uma posição crítica em relação à guerra.
Além disso, o Brasil acaba de perder o diplomata Sérgio Vieira de Mello naquela explosão que detonou a sede da ONU, deixou os EUA numa encruzilhada e expôs definitivamente a disposição de setores iraquianos de resistir à invasão do seu país.
Com a falta de perspectiva, assistindo à morte de seus homens a toda hora e às vésperas de eleições, Bush pede socorro. Primeiro, à própria ONU, que desdenhou ao determinar unilateralmente a guerra. Agora até ao Brasil, que a condenou abertamente.
Lula estará em Nova York na próxima semana para abrir a Assembléia Geral da ONU. Nem deve (ou deveria) ser preciso perguntar ao Planalto e ao Itamaraty se ele está pensando em mandar tropas brasileiras como reforço aos 145 mil soldados americanos, 12 mil do Reino Unido e mais 15,5 mil de outros 29 países. Não faz (e não faria) nenhum sentido.
Apesar de já ter ido duas vezes a Washington, uma antes e outra depois da posse, Lula lidera uma política externa que, para o bem ou para o mal, diz "não" aos países desenvolvidos. Como foi agora, na confusa reunião da OMC em Cancún, diferente de tudo o que a gente já viu em termos de negociações pobres-ricos.
Mandar um soldado que seja para o Iraque, mesmo que sob os pretextos de "força de paz" e de "reconstrução do país", seria encampar tardiamente uma guerra que é de Bush e de Blair e que não tem nada a ver com o Brasil nem com a América do Sul. Quem pariu a guerra que a embale. Já temos guerras suficientes no próprio Brasil e no continente. Contra a miséria, por exemplo.


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