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São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

As grandes vitórias

RIO DE JANEIRO - A parcial vitória do governo na aprovação da reforma tributária está sendo comparada a uma dessas conquistas definitivas de um grupo sobre outro, de um exército sobre outro. De repente, o Palácio do Planalto virou um ninho que abriga os novos Alexandres, os novos Césares, os novos Napoleões: vencem todas ou quase todas.
A queda-de-braço foi realmente vencida por um dos lados, mas naquela base. Não houve persuasão, mas pressão, conchavo, fisiologismo. A maioria dos deputados, na base de 80%, nem sabe exatamente o que foi votado e aprovado. Foram levados na enchente das lideranças, dos acordos feitos na pressa do tempo e na penumbra da madrugada. Dora Kramer escreveu, no domingo, que os deputados "nem às paredes confessam que não tinham a mais pálida idéia a respeito do que faziam".
Não tenho competência fiscal nem qualquer outro tipo de competência para elogiar ou condenar o que resultou da reforma tributária em seu atual estágio. É evidente que é medida necessária, como outras reformas que o governo prometeu e vai adiando indefinidamente, como a agrária, a política e outras.
Peritos em reuniões, assembléias, esquemas de obter maioria em momentos de votação, os principais líderes do PT revelam-se profissionais no setor. São e serão capazes de, em quatro, oito ou 200 anos alterar todas as leis e práticas do país em busca de um Estado ideal que será sucessivamente empurrado com a barriga até chegar à perfeição absoluta.
A mesma perícia que demonstra em assembléias, conchavos e reuniões salvadoras -herança romântica dos tempos em que era oposição- não se estende ao puro e necessário dever de criar um país desenvolvido. Fazer obras, promover o decantado "espetáculo do crescimento", ficará sempre para mais tarde, quando a máquina política e administrativa do país atingir a mirabolante perfeição absoluta. E aí nada mais haverá para fazer.


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