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CARLOS HEITOR CONY
Jimmy Carter
RIO DE JANEIRO - Nunca dei muita bola para o Prêmio Nobel da Paz. Na
maioria das vezes, há um recado político de circunstância -o que torna
a premiação datada, parcial e interesseira.
Sou forçado a abrir exceção para
Jimmy Carter. É evidente que houve
também um recado político na premiação, uma forma indireta de condenar a paranóia do atual presidente
norte-americano que pode colocar
em risco a nossa civilização.
Mas a figura de Carter é especial
-ele não se improvisou no papel que
vem exercendo e que exerceu durante
o seu mandato. Não foi reeleito, como a maioria dos presidentes de lá,
mas deixou um rastro de boa vontade e de respeito aos direitos humanos
que continuou mesmo após a sua
passagem pela Casa Branca.
Foram muitos os episódios que o
marcaram, inclusive aquela prova de
humildade no caso iraniano, quando
helicópteros dos Estados Unidos foram sacrificados na crise dos reféns
do aiatolá. Ele foi à TV e declarou:
"Eu, Jimmy Carter, presidente dos Estados Unidos, declaro-me culpado".
Sua vinda à América Latina foi o
início da abertura democrática que
agora vivemos. Ao visitar o Brasil, fez
questão de se reunir com os líderes da
oposição, Evaristo Arns, Raymundo
Faoro e Barbosa Lima Sobrinho. Forçou o general Geisel a prometer a tal
abertura -lenta, gradual e segura.
Caso mais específico foi o asilo que
deu a Leonel Brizola. Exilado do Brasil, expulso da Argentina e do Uruguai, ele não tinha onde cair morto
nem vivo. Mesmo sem pedir asilo, como é de praxe em casos assim, Carter
deu-lhe abrigo num gesto que não
significava apoio às idéias do exilado, mas garantia à segurança e à sobrevivência de um político demonizado por um regime totalitário.
E houve Camp David, quando fez
dois terroristas que tentavam se destruir mutuamente selarem um acordo de paz. Carter mereceu o prêmio.
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