São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Jimmy Carter

RIO DE JANEIRO - Nunca dei muita bola para o Prêmio Nobel da Paz. Na maioria das vezes, há um recado político de circunstância -o que torna a premiação datada, parcial e interesseira.
Sou forçado a abrir exceção para Jimmy Carter. É evidente que houve também um recado político na premiação, uma forma indireta de condenar a paranóia do atual presidente norte-americano que pode colocar em risco a nossa civilização.
Mas a figura de Carter é especial -ele não se improvisou no papel que vem exercendo e que exerceu durante o seu mandato. Não foi reeleito, como a maioria dos presidentes de lá, mas deixou um rastro de boa vontade e de respeito aos direitos humanos que continuou mesmo após a sua passagem pela Casa Branca.
Foram muitos os episódios que o marcaram, inclusive aquela prova de humildade no caso iraniano, quando helicópteros dos Estados Unidos foram sacrificados na crise dos reféns do aiatolá. Ele foi à TV e declarou: "Eu, Jimmy Carter, presidente dos Estados Unidos, declaro-me culpado".
Sua vinda à América Latina foi o início da abertura democrática que agora vivemos. Ao visitar o Brasil, fez questão de se reunir com os líderes da oposição, Evaristo Arns, Raymundo Faoro e Barbosa Lima Sobrinho. Forçou o general Geisel a prometer a tal abertura -lenta, gradual e segura.
Caso mais específico foi o asilo que deu a Leonel Brizola. Exilado do Brasil, expulso da Argentina e do Uruguai, ele não tinha onde cair morto nem vivo. Mesmo sem pedir asilo, como é de praxe em casos assim, Carter deu-lhe abrigo num gesto que não significava apoio às idéias do exilado, mas garantia à segurança e à sobrevivência de um político demonizado por um regime totalitário.
E houve Camp David, quando fez dois terroristas que tentavam se destruir mutuamente selarem um acordo de paz. Carter mereceu o prêmio.


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