São Paulo, sexta, 16 de outubro de 1998

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Acabou o tamanho único

CLÓVIS ROSSI

Porto (Portugal) - Esboça-se, no mundo todo, um movimento no sentido de politizar a discussão da crise financeira global, até agora confinada ao noticiário e ao pensamento econômicos.
É sintomático que até um ex-banqueiro de investimentos, Felix Rohatyn, hoje embaixador dos Estados Unidos na França, se mostre preocupado com a face política da crise.
"É importante lembrar que as crises financeiras de hoje podem se tornar as crises políticas ou de segurança de amanhã, se não prestarmos muita atenção às consequências das soluções financeiras", disse Rohatyn em conferência ontem resumida pelo jornal "The International Herald Tribune".
Reforçou o presidente filipino, Joseph Estrada, no encontro anual para o leste da Ásia do Fórum Econômico Mundial: "O caos econômico está provocando tensão nos sistemas político e social. O consenso doméstico que apoiou economias e sociedades mais abertas em um crescente número de países está ameaçado de se desfazer".
Rohatyn acha que esse consenso só poderá ser preservado se os promotores de economias e sociedades mais abertas deixarem claro que não acreditam que "mercados abertos significam o fim do governo e o sacrifício da proteção social".
O notável é que o embaixador norte-americano acabou produzindo uma frase que parece a inversão de um dito tristemente famoso do então chanceler brasileiro, Juracy Magalhães, para quem o que era bom para os EUA era bom também o Brasil. Tese, de resto, que continua valendo para muita gente importante no país.
Rohatyn diz que "os EUA tiveram êxito ao enfrentar muitos dos novos desafios econômicos", mas acrescenta: "Nós não pretendemos que o que funciona para nós funcione necessariamente para todos".
Por que os tupiniquins têm que acreditar no contrário? Só porque os dispensa de buscar alternativas que já não venham pré-cozidas da matriz?



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