UOL




São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

Robin Hood às avessas

BRASÍLIA - Ruth Cardoso sempre dizia, e agora o Ministério da Fazenda põe no papel: em vez de socorrerem os mais pobres, os recursos sociais públicos no Brasil vão parar nas mãos da classe média e dos ricos; em vez de instrumentos de redistribuição, tornam-se instrumentos de concentração de renda. Uma espécie de Robin Hood às avessas.
Ruth e Palocci constataram. O que se espera é que finalmente o governo ponha a mão nessa cumbuca para redirecionar o gasto público social. O que, convenhamos, não é fácil.
Exemplo: 73% dos gastos sociais são com a Previdência, e nós acompanhamos bem a defesa feroz das aposentadorias precoces e integrais nos debates sobre as reformas.
O exemplo vale para tudo: universidades, hospitais, reembolsos iguais para todos. Qualquer tentativa de mudança, vem aí uma gritaria. Mas é preciso haver mudança, principalmente num governo do PT.
Uma curiosidade: apresentado como roteiro para uma ampla reforma dos gastos sociais, o documento é da Fazenda, do poderoso Palocci. O que só reforça a velha pergunta: onde estão os ministros da área social?
Essa deveria ser a menina dos olhos do governo do PT, mas é um amontoado de ministros sem verbas, sem criatividade, assíduos nas listas da reforma ministerial. Não se esperava tanto pragmatismo na política econômica nem tanto amadorismo na social. Duas surpresas. Ao inverso.
Tema recorrente, a reforma ministerial viria a calhar para reverter a surpresa negativa, trocando ministros que não mostraram a que vieram por outros capazes de equilibrar a expectativa do PT na oposição com a ação do PT no governo. Ao que tudo indica, isso não vai ocorrer, porque o Lulinha Paz e Amor não quer jogar ao mar velhos amigos petistas derrotados nas urnas de 2002.
Em sendo assim, ficamos conversados: Palocci, agora, é também superministro da área social. Para mudar o destino de verbas que deveriam ir para os mais pobres e acabam nas mãos de quem grita mais. Ou de quem é simplesmente esperto.


Texto Anterior: Miami - Clóvis Rossi: A "segundona" e a vergonha
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Direito de imagem
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.