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CLÓVIS ROSSI
Lógica e emoção
HONG KONG - Do outro lado do mundo, não dá para saber direito se
alguém se surpreendeu com a nova
queda do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva nas pesquisas sobre intenção
de voto para 2006.
Se se surpreendeu, não deveria, pela lógica mais básica. Comecemos pelo fato de que Lula nunca foi um
campeão de votos. Perdeu todas as
quatro eleições majoritárias que disputou até vencer a de 2002. Motivo:
uma rejeição alta.
Ele próprio tinha plena noção desse
seu problema. No final de 1997, no
Chile, comentou comigo e com Tarso
Genro, quando o PT discutia um nome alternativo ao dele para 1998
(Tarso chegou a ser escolhido), que
saía sempre na frente, mas logo batia
no teto, por causa da rejeição.
Em 2002, a rejeição diminuiu, mas
não o suficiente para lhe dar o apoio
da maioria absoluta dos brasileiros
no primeiro turno. O segundo turno é
outra história: o voto é também contra um dos dois candidatos (no caso,
o candidato do governo).
Agora, só há motivos para supor
que a rejeição tenha aumentado. Primeiro, seu governo tem avaliação negativa maior que a positiva, o que
significa que a fatia não-tradicional
do lulo-petismo que votou nele não
vê motivos para fazê-lo de novo.
Segundo, toda uma ampla faixa da
esquerda está tão desiludida com Lula que é capaz de votar em Enéas em
um eventual segundo turno.
Sem falar de outra fatia numerosa,
na classe média, irritada por diferentes motivos. Tudo somado, não parece haver a mínima lógica em imaginar que Lula possa no primeiro turno
bisar, ao menos, os 46% do primeiro
turno de 2002.
Se, no segundo, perde para Serra e
começa a empatar até com Alckmin,
é sinal de que o voto contra, que foi
para Lula em 2002, agora pode ser
contra o próprio Lula.
Lógica, portanto, existe nos números. Mas ela é apenas um dos fatores
a contar. Outro, a emoção, só é mensurável a partir da antevéspera da
votação.
@ - crossi@uol.com.br
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