São Paulo, sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

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CLÓVIS ROSSI

Lógica e emoção

HONG KONG - Do outro lado do mundo, não dá para saber direito se alguém se surpreendeu com a nova queda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas sobre intenção de voto para 2006.
Se se surpreendeu, não deveria, pela lógica mais básica. Comecemos pelo fato de que Lula nunca foi um campeão de votos. Perdeu todas as quatro eleições majoritárias que disputou até vencer a de 2002. Motivo: uma rejeição alta.
Ele próprio tinha plena noção desse seu problema. No final de 1997, no Chile, comentou comigo e com Tarso Genro, quando o PT discutia um nome alternativo ao dele para 1998 (Tarso chegou a ser escolhido), que saía sempre na frente, mas logo batia no teto, por causa da rejeição.
Em 2002, a rejeição diminuiu, mas não o suficiente para lhe dar o apoio da maioria absoluta dos brasileiros no primeiro turno. O segundo turno é outra história: o voto é também contra um dos dois candidatos (no caso, o candidato do governo).
Agora, só há motivos para supor que a rejeição tenha aumentado. Primeiro, seu governo tem avaliação negativa maior que a positiva, o que significa que a fatia não-tradicional do lulo-petismo que votou nele não vê motivos para fazê-lo de novo.
Segundo, toda uma ampla faixa da esquerda está tão desiludida com Lula que é capaz de votar em Enéas em um eventual segundo turno.
Sem falar de outra fatia numerosa, na classe média, irritada por diferentes motivos. Tudo somado, não parece haver a mínima lógica em imaginar que Lula possa no primeiro turno bisar, ao menos, os 46% do primeiro turno de 2002.
Se, no segundo, perde para Serra e começa a empatar até com Alckmin, é sinal de que o voto contra, que foi para Lula em 2002, agora pode ser contra o próprio Lula.
Lógica, portanto, existe nos números. Mas ela é apenas um dos fatores a contar. Outro, a emoção, só é mensurável a partir da antevéspera da votação.

@ - crossi@uol.com.br


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