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CARLOS HEITOR CONY
O jardim e a torre
RIO DE JANEIRO - A marcha da
humanidade ao longo da história
pode ser interpretada (mas não explicada) por duas metáforas que
constam do livro mais importante
da cultura ocidental: o Paraíso perdido e a torre de Babel. Todo o resto, guerras, invenções, produções
da arte ou do pensamento, tudo é
balizado pelos dois episódios lendários do "Gênesis".
O homem foi criado para ser feliz
num jardim onde tinha de tudo e
tudo podia, menos conhecer o Bem
e o Mal -atributo inalienável do
Criador. A maçã não é símbolo do
ato sexual, como a maioria pensa.
No lance com a serpente, o primeiro-casal já tinha filhos nascidos
sem proveta. O castigo para o homem foi o suor do trabalho, e, para a
mulher, as dores do parto. Marcou
o início do longo exílio no qual a humanidade sofre a nostalgia do Paraíso perdido. Camus fala disso em
"O Exílio e o Reino".
O outro episódio foi a torre de Babel. Em busca do Paraíso do qual foram expulsos, os homens começaram a falar diversas línguas, não
mais se entenderam, brigaram e separaram-se em tribos e nações. A
obra comum foi abandonada. Que
cada um, que cada grupo tratasse de
si. Daí em diante, não foi encontrada uma tarefa que pudesse unir e
reunir todos os homens.
Inconscientemente, a humanidade tenta reencontrar o caminho anterior à Babel, quando todos tinham a mesma linguagem e o mesmo objetivo: recuperar o Paraíso do
qual fora expulsa. Dar fim ao exílio e
voltar ao jardim que em algum lugar da história a espera.
Duas buscas improváveis. Apesar
das tentativas filosóficas, religiosas
ou políticas, das evoluções e revoluções, os homens continuarão a não
se entender na construção de um
sistema -ou torre- que os leve de
volta ao jardim para sempre esperado e jamais alcançado.
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