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São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2003

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CAMINHOS PRÓPRIOS

Antes governados por senhores da guerra, alguns dos países que formavam a antiga Iugoslávia são hoje reféns de senhores do crime. A constatação, feita em um relatório recente do Council on Foreign Relations, de Washington, foi reforçada pelo assassinato, na semana passada, do primeiro-ministro da Sérvia, Zoran Djindjic, atribuído pelas autoridades a um clã mafioso.
Em países que passam por conflitos civis, não é raro que ex-combatentes transitem para o submundo da máfia. O que impressiona, no caso da Sérvia, é o custo político de uma sequência de crimes que vem abatendo igualmente opositores e antigos aliados de Slobodan Milosevic, o ex-ditador sérvio que foi entregue por Djindjic ao tribunal internacional que julga criminosos das guerras nos Bálcãs.
Desde a implosão da Iugoslávia, no início dos anos 90, os Bálcãs presenciaram uma série de intervenções estrangeiras. Na Bósnia, a Otan (aliança militar ocidental) interveio depois que as Nações Unidas falharam em impedir massacres.
Já o bombardeio da Iugoslávia em favor dos independentistas kosovares, em 1999, teve sua legalidade questionada. Como a Rússia -tradicional aliada da Sérvia- ameaçasse vetar uma resolução autorizando a missão, a operação bélica, também realizada pela Otan, se deu à revelia da ONU. Quatro anos depois, a ajuda econômica para a reconstrução do país é insuficiente e condicionada a medidas muitas vezes impopulares.
A situação ressalta o limite das intervenções internacionais em guerras civis. Há ocasiões em que crimes contra a humanidade justificam ingerências externas, mas só as facções internas em conflito podem encontrar caminhos, mesmo que dolorosos, para a normalização política. Embora ofertas de mediação e auxílio econômico sejam importantes, modelos impostos de fora conspiram contra a estabilidade.


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