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CAMINHOS PRÓPRIOS
Antes governados por senhores da guerra, alguns dos
países que formavam a antiga Iugoslávia são hoje reféns de senhores do
crime. A constatação, feita em um relatório recente do Council on Foreign Relations, de Washington, foi
reforçada pelo assassinato, na semana passada, do primeiro-ministro da
Sérvia, Zoran Djindjic, atribuído pelas autoridades a um clã mafioso.
Em países que passam por conflitos civis, não é raro que ex-combatentes transitem para o submundo
da máfia. O que impressiona, no caso da Sérvia, é o custo político de
uma sequência de crimes que vem
abatendo igualmente opositores e
antigos aliados de Slobodan Milosevic, o ex-ditador sérvio que foi entregue por Djindjic ao tribunal internacional que julga criminosos das
guerras nos Bálcãs.
Desde a implosão da Iugoslávia, no
início dos anos 90, os Bálcãs presenciaram uma série de intervenções estrangeiras. Na Bósnia, a Otan (aliança militar ocidental) interveio depois
que as Nações Unidas falharam em
impedir massacres.
Já o bombardeio da Iugoslávia em
favor dos independentistas kosovares, em 1999, teve sua legalidade
questionada. Como a Rússia -tradicional aliada da Sérvia- ameaçasse vetar uma resolução autorizando a
missão, a operação bélica, também
realizada pela Otan, se deu à revelia
da ONU. Quatro anos depois, a ajuda
econômica para a reconstrução do
país é insuficiente e condicionada a
medidas muitas vezes impopulares.
A situação ressalta o limite das intervenções internacionais em guerras civis. Há ocasiões em que crimes
contra a humanidade justificam ingerências externas, mas só as facções
internas em conflito podem encontrar caminhos, mesmo que dolorosos, para a normalização política.
Embora ofertas de mediação e auxílio econômico sejam importantes,
modelos impostos de fora conspiram contra a estabilidade.
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