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![]() São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2003 |
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Mudar o rumo BABÁ
Mais de 52 milhões de brasileiros
repudiaram nas urnas o governo
FHC e votaram em Lula, rejeitando o
modelo neoliberal que desnacionalizou
a economia, aumentou o endividamento interno e externo, multiplicou o desemprego, reduziu salários e aumentou
o sucateamento da saúde e da educação
públicas. Esse voto foi parte dos novos
ventos que sopram na América Latina
derrubando presidentes, nas ruas e nas
urnas, e castigando os cúmplices do saque ordenado pelo FMI.
Com os aliados escolhidos pela direção majoritária do PT, o resultado não poderia ser outro. Os "aliados" do PL ou do PTB, Sarney, Delfim Neto ou Ciro Gomes vieram para garantir a continuidade do modelo econômico que sempre defenderam, e não responder à imensa dívida social com o povo brasileiro. Se assim fosse, já o teriam feito, visto que são os mesmos que durante décadas governaram o Brasil, mas o levaram a atual catástrofe social. O caminho escolhido, assim, levará a perder os aliados que foram responsáveis pela origem e sustentação do PT: os trabalhadores e o povo. Expressando essa realidade, um companheiro petista me escreveu: "A grande mudança (...) é a do comportamento da elite do PT. Estamos perplexos, estupefatos, em estado de choque (...) As primeiras mudanças vieram no lombo dos trabalhadores (...) Ética é manter a palavra sustentada no discurso de 20 anos de luta". Impõe-se mudar o rumo, porque esta política já fracassou e voltará a fracassar. Não existe nenhuma possibilidade de resolver os tremendos problemas pelos quais passa a maioria da população sem rupturas com o atual modelo. Porém esse fracasso não significa o fracasso da esquerda, mas daqueles que, pressionados pelos mercados, abandonam o caminho que sempre defenderam e pelo qual lutou a esquerda. Esse abandono foi explicitado de forma clara pelo senador Mercadante e pelos ministros Mantega e Palocci, quando, na Comissão de Assuntos Econômicos, autocriticaram-se por terem feito oposição a FHC. Surpresos, ouvimos Mercadante declarar que "a oposição [na época de FHC" não ajudou a aprovar as reformas e errou". E mais: "Seguramente o governo anterior deu uma grande contribuição ao país". Nossa opinião é a contrária; mais do que nunca é preciso retomar a luta contra o modelo neoliberal. Precisamos de mais controle do BC, não de menos. Devemos suspender o pagamento dos juros da dívida e iniciar uma imediata auditoria das dívidas interna e externa. É necessário definir que não entraremos na Alca, onde os EUA se propõem a, como bem definiu o sr. Zoellick, "fazer pressões agressivas e usar todos os meios para obter vantagem total". Faz-se necessário fortalecer os laços com nossa base -os trabalhadores do campo e da cidade-, defendendo seus interesses postergados. Por isso, deve-se revogar a MP de FHC que impede a vistoria das terras ocupadas; retirar da pauta o PL 9 e abrir uma auditoria nas contas da Previdência. Para combater os verdadeiros privilégios, devemos acabar com a sonegação, as isenções, as dívidas e as aposentadorias privilegiadas de deputados, juízes, militares, ex-presidentes e governadores. O verdadeiro debate é como melhorar a miserável aposentadoria que recebe a maioria de nossos idosos, e não como cortar conquistas do servidor público. Dizem-nos que "não se podem romper contratos". Mas por que será que se rompem com tanta facilidade os contratos com os mais fracos da sociedade, enquanto os contratos com os ricos e poderosos são respeitados religiosamente? Porque nos negamos a aceitar passivamente essa brutal mudança nos rumos do PT e porque estamos seguros de que são muitos os que pensam da mesma forma, impõe-se um chamado à unidade de todos os petistas que não se autocriticam por haverem lutado e sonhado e que continuam defendendo as bandeiras que fizeram grande o PT. João Batista Oliveira de Araújo, o Babá, 49, engenheiro, é deputado federal pelo PT do Pará. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Betty Milan: Guerra, desilusão e paz Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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