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A AUTOCRACIA DE PUTIN
Como previsto, o presidente
da Rússia, Vladimir Putin, foi
reeleito para o cargo, com impressionantes 71% dos votos. Se as urnas
trouxeram alguma surpresa, foram
os 13,7% obtidos pelo candidato comunista, Nikolai Kharitonov. O
inesperado não é um comunista ter
chegado em segundo lugar, mas o
fato de um postulante virtualmente
desconhecido arregimentar mais de
10% do eleitorado russo.
E Kharitonov era um desconhecido
porque Putin praticamente impediu
que seus rivais tivessem acesso aos
meios de comunicação. O pleito russo foi abertamente criticado pelo secretário de Estado dos EUA, Colin
Powell, e pela Organização pela Segurança e Cooperação na Europa
(OSCE). Não se contesta o resultado
material da eleição. Putin, depois de
estabilizar o país e presidir a quatro
anos de prosperidade econômica,
era imbatível. O problema é que o
presidente, com sua gritante tendência autocrática, ignorou solenemente
princípios republicanos e passou como um trator pela oposição.
A pergunta que fica é: se ele tinha a
reeleição praticamente assegurada,
por que agiu tão truculentamente, a
ponto de provocar protestos internacionais? A resposta não é trivial. Em
primeiro lugar, deve-se lembrar que
a experiência democrática da Rússia
é praticamente nula. O país passou
quase diretamente da autocracia dos
czares para o regime de partido único soviético. Do fim da URSS, em
1991, até Putin, transcorreu muito
pouco tempo para a criação de instituições democráticas, num país que
valoriza lideranças fortes.
O fato de haver um componente
cultural no autoritarismo de Putin
não significa que o Ocidente deva
aceitá-lo mansamente. Países e organizações que lidam com o governo
russo têm um papel importante a desempenhar na cobrança de respeito
às instituições democráticas e aos direitos humanos, que também vêm
sendo olimpicamente ignorados na
Tchetchênia, onde tem lugar um forte movimento separatista.
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