São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

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A AUTOCRACIA DE PUTIN

Como previsto, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, foi reeleito para o cargo, com impressionantes 71% dos votos. Se as urnas trouxeram alguma surpresa, foram os 13,7% obtidos pelo candidato comunista, Nikolai Kharitonov. O inesperado não é um comunista ter chegado em segundo lugar, mas o fato de um postulante virtualmente desconhecido arregimentar mais de 10% do eleitorado russo.
E Kharitonov era um desconhecido porque Putin praticamente impediu que seus rivais tivessem acesso aos meios de comunicação. O pleito russo foi abertamente criticado pelo secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, e pela Organização pela Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). Não se contesta o resultado material da eleição. Putin, depois de estabilizar o país e presidir a quatro anos de prosperidade econômica, era imbatível. O problema é que o presidente, com sua gritante tendência autocrática, ignorou solenemente princípios republicanos e passou como um trator pela oposição.
A pergunta que fica é: se ele tinha a reeleição praticamente assegurada, por que agiu tão truculentamente, a ponto de provocar protestos internacionais? A resposta não é trivial. Em primeiro lugar, deve-se lembrar que a experiência democrática da Rússia é praticamente nula. O país passou quase diretamente da autocracia dos czares para o regime de partido único soviético. Do fim da URSS, em 1991, até Putin, transcorreu muito pouco tempo para a criação de instituições democráticas, num país que valoriza lideranças fortes.
O fato de haver um componente cultural no autoritarismo de Putin não significa que o Ocidente deva aceitá-lo mansamente. Países e organizações que lidam com o governo russo têm um papel importante a desempenhar na cobrança de respeito às instituições democráticas e aos direitos humanos, que também vêm sendo olimpicamente ignorados na Tchetchênia, onde tem lugar um forte movimento separatista.


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