|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Não me deixem só!
BRASÍLIA - Se há desvios horrorosos na Sudam (agência da Amazônia de Jader Barbalho), há outros tantos, ou
até piores, na Sudene (a do Nordeste
de Antonio Carlos Magalhães).
Se Jader pode ser acusado de indicar para a Sudam amigos esquisitos,
com quem fez negócios igualmente
esquisitos, ACM é amigo de Ângelo
Calmon de Sá, aquele dos escândalos
do Banco Econômico, com quem andava pra lá e pra cá.
Se empresários fajutos da Amazônia levam rios de dinheiro da Sudam
para projetos-fantasmas, empresários muito maiores de São Paulo (ou
financiadores desses projetos e de
campanhas) embolsam 40% da roubalheira a título de "corretagem".
Se Jader é acusado de sonegar informações e valores de compras de fazenda e de outras coisas do gênero,
pior é quem (ACM?!) põe empresas
suas (a empreiteira OAS?!) em nome
de genros (César Matta Pires?!).
Se, enfim, está todo mundo preocupado com Sudam, Banpará, compras de terras e o patrimônio do presidente do Senado, por que não estar investigando também os negócios e investimentos do Banco do Brasil, BNDES, Banco do Nordeste, fundos
de pensão e a já referida Sudene?
Em resumo, essa sequência de "se"
e de comparações definiu a linha do
tão esperado -e tão demorado-
discurso de Jader Barbalho para se
defender das acusações que começaram há meses, atravessaram sua eleição para a presidência do Senado e
não param nunca. Só que... mais do
que se defender, ele atacou.
Em vez de documentos, provas, evidências de defesa, mostrados teatralmente daqui e dali, ele deixou principalmente um recado político: o de que não vai renunciar a cargo nenhum, não vai afundar sozinho, não vai para o inferno sozinho, não vai
morrer na lama sozinho. Se há lama, então que seja lama para todo lado.
Do jeito que a coisa está, essa história ainda vai longe e ACM poderá ter que dividir com Jader o fardo de ser o
grande denunciador da República. Em vez de um, teremos dois arautos da moralidade. E nenhuma CPI.
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: O frescor dos vereadores Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Das relações com o poder Índice
|