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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
"Belsil"
SÃO PAULO - Em 2001, a economia brasileira cresceu 1,31%. Em 2002,
1,93%. No ano passado, o PIB encolheu 0,2%. Enquanto isso, o desemprego explode, a favelização avança,
a criminalidade aumenta, a infra-estrutura se deteriora e o Estado cria
impostos e corta gastos para mostrar
aos mercados financeiros internacionais que pode pagar uma dívida monumental, a juros altíssimos.
Segundo se depreende do cânone
econômico atual, quase tudo pode ser
feito para enfrentar essa situação,
menos renegociar a dívida -que é o
que qualquer um pensaria em fazer
em situações análogas na vida empresarial ou mesmo pessoal.
Bem, mas se a dívida não pode ser
renegociada, então deveriam as autoridades tratar de reduzi-la em relação ao PIB, ou seja, em relação à riqueza produzida pelo país. É o que
dizem fazer, mas o país não aumenta
sua produção de riquezas. E mantém
os juros nas alturas, o que, paradoxalmente, serve apenas para engordar a dívida e para impedir a economia de crescer. Economistas têm variadas explicações para isso, mas
nem sempre fáceis de entender.
Uma delas é que o presidente Lula
determinou uma brutal redução da
inflação. Em pouco mais de um ano,
ela deve passar de 17% para 5%. É
um belo troféu, sem dúvida, mas a ser
erguido em triunfo sobre os escombros da paralisia econômica causada
pelo arrocho monetário.
Paralelamente, países como a China e a Índia crescem a taxas como as
que um dia fizeram o Brasil acreditar
ser o inexorável país do futuro. A
manter-se essa dinâmica, em mais
algumas décadas a expressão "Belíndia" perderá seu sentido. A fórmula
foi criada pelo economista Edmar
Bacha para designar a divisão do
Brasil entre uma nação muito rica (a
Bélgica) e uma completamente miserável (a Índia).
Mas, se a Índia nos deixa para trás,
será preciso achar outra. Quem sabe
"Belsil" -metade Bélgica, metade
Brasil? Ou simplesmente Brasil, uma
palavra que já dirá tudo sobre países
que estranhamento abdicaram de
seus melhores destinos.
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