São Paulo, sábado, 17 de abril de 2004

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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

"Belsil"

SÃO PAULO - Em 2001, a economia brasileira cresceu 1,31%. Em 2002, 1,93%. No ano passado, o PIB encolheu 0,2%. Enquanto isso, o desemprego explode, a favelização avança, a criminalidade aumenta, a infra-estrutura se deteriora e o Estado cria impostos e corta gastos para mostrar aos mercados financeiros internacionais que pode pagar uma dívida monumental, a juros altíssimos.
Segundo se depreende do cânone econômico atual, quase tudo pode ser feito para enfrentar essa situação, menos renegociar a dívida -que é o que qualquer um pensaria em fazer em situações análogas na vida empresarial ou mesmo pessoal.
Bem, mas se a dívida não pode ser renegociada, então deveriam as autoridades tratar de reduzi-la em relação ao PIB, ou seja, em relação à riqueza produzida pelo país. É o que dizem fazer, mas o país não aumenta sua produção de riquezas. E mantém os juros nas alturas, o que, paradoxalmente, serve apenas para engordar a dívida e para impedir a economia de crescer. Economistas têm variadas explicações para isso, mas nem sempre fáceis de entender.
Uma delas é que o presidente Lula determinou uma brutal redução da inflação. Em pouco mais de um ano, ela deve passar de 17% para 5%. É um belo troféu, sem dúvida, mas a ser erguido em triunfo sobre os escombros da paralisia econômica causada pelo arrocho monetário.
Paralelamente, países como a China e a Índia crescem a taxas como as que um dia fizeram o Brasil acreditar ser o inexorável país do futuro. A manter-se essa dinâmica, em mais algumas décadas a expressão "Belíndia" perderá seu sentido. A fórmula foi criada pelo economista Edmar Bacha para designar a divisão do Brasil entre uma nação muito rica (a Bélgica) e uma completamente miserável (a Índia).
Mas, se a Índia nos deixa para trás, será preciso achar outra. Quem sabe "Belsil" -metade Bélgica, metade Brasil? Ou simplesmente Brasil, uma palavra que já dirá tudo sobre países que estranhamento abdicaram de seus melhores destinos.


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