São Paulo, sábado, 17 de abril de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Degradação e deboche

BRASÍLIA - O senador e intelectual Mão Santa (PMDB-PI) pediu a palavra outro dia para contar oficialmente, dentro do Congresso, a anedota que virou sua marca registrada em encontros sociais de Brasília: "Há três coisas que a gente só faz uma vez na vida: nascer, morrer e votar no PT". Gargalhada geral.
Ninguém defendeu Lula. Na presidência da sessão, o neopetista José Sarney segurava-se para não rir.
Brasília assiste a uma perigosa degradação do poder político do Palácio do Planalto associada a um ar de deboche da oposição, nas ruas e dentro do Congresso.
No auge do Waldogate, mais de 20 mil pessoas vieram a Brasília. Protestavam contra o fim dos bingos. Não passou na TV, claro, mas, no final da tarde, essa turma foi para a frente do Palácio do Planalto e soltou a voz: "Impeachment, impeachment". No comando, a Força Sindical.
Um disparate. OK. Ocorre que talvez seja cedo demais para 20 mil manifestantes se sentirem tão à vontade -sem mencionar as ofensas pessoais que endereçaram a Lula.
No Congresso, a base de apoio petista se mostra tão gelatinosa quanto a de FHC. O PL, de José Alencar, anunciou o seu desligamento do bloco governista no Senado. O próprio vice-presidente se articula para promover ações contra a política econômica. Com quem seria esse conchavo? Com Paulinho, da Força Sindical, que animou a multidão que dias atrás gritava "impeachment" na praça dos Três Poderes.
Na Câmara, os 150 deputados de PL, PTB e PP obstruem as votações enquanto não for saldada a conta que espetaram no governo para abafar o Waldogate. O PMDB já está faturando os cargos requisitados.
A semana que vem será perfeita para exprimir o espírito operacional do governo Lula. Com um feriado na quarta-feira, Brasília ficará andando de lado. Nada de relevante deve ser votado no Congresso. Cada vez mais se consolida a imagem de inépcia e de paralisia da administração petista.


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