|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO RODRIGUES
Degradação e deboche
BRASÍLIA - O senador e intelectual Mão Santa (PMDB-PI) pediu a palavra outro dia para contar oficialmente, dentro do Congresso, a anedota
que virou sua marca registrada em
encontros sociais de Brasília: "Há três
coisas que a gente só faz uma vez na
vida: nascer, morrer e votar no PT".
Gargalhada geral.
Ninguém defendeu Lula. Na presidência da sessão, o neopetista José
Sarney segurava-se para não rir.
Brasília assiste a uma perigosa degradação do poder político do Palácio do Planalto associada a um ar de
deboche da oposição, nas ruas e dentro do Congresso.
No auge do Waldogate, mais de 20
mil pessoas vieram a Brasília. Protestavam contra o fim dos bingos. Não
passou na TV, claro, mas, no final da
tarde, essa turma foi para a frente do
Palácio do Planalto e soltou a voz:
"Impeachment, impeachment". No
comando, a Força Sindical.
Um disparate. OK. Ocorre que talvez seja cedo demais para 20 mil manifestantes se sentirem tão à vontade
-sem mencionar as ofensas pessoais
que endereçaram a Lula.
No Congresso, a base de apoio petista se mostra tão gelatinosa quanto
a de FHC. O PL, de José Alencar,
anunciou o seu desligamento do bloco governista no Senado. O próprio
vice-presidente se articula para promover ações contra a política econômica. Com quem seria esse conchavo? Com Paulinho, da Força Sindical,
que animou a multidão que dias
atrás gritava "impeachment" na praça dos Três Poderes.
Na Câmara, os 150 deputados de
PL, PTB e PP obstruem as votações
enquanto não for saldada a conta
que espetaram no governo para abafar o Waldogate. O PMDB já está faturando os cargos requisitados.
A semana que vem será perfeita para exprimir o espírito operacional do
governo Lula. Com um feriado na
quarta-feira, Brasília ficará andando
de lado. Nada de relevante deve ser
votado no Congresso. Cada vez mais
se consolida a imagem de inépcia e
de paralisia da administração petista.
Texto Anterior: São Paulo - Marcos Augusto Gonçalves: "Belsil" Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Intervenção ou ajuda Índice
|