São Paulo, quinta-feira, 17 de junho de 2010

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VALDO CRUZ

Limonada eleitoral

BRASÍLIA - Pois bem, o presidente Lula, com seu dom de prestidigitador, deu uma aula de como criar um "falso dilema" e dele tirar o máximo proveito possível.
Foi assim com a novela do aumento de 7,7% das aposentadorias de valor acima do salário mínimo, aprovado pelo Congresso e criticado pelo governo desde o início como uma farra eleitoral.
Depois de sua equipe econômica insistir publicamente no veto à medida e de ele próprio dar seguidas declarações de que poderia acatar a orientação de seus ministros, Lula posou de amigo dos aposentados e sancionou o aumento real aprovado pelos parlamentares.
Estrategicamente, usou todo o tempo que tinha para anunciar sua decisão. Deixou para o último minuto do segundo tempo a divulgação da bondade eleitoral. Uma bondade contra a qual seu governo trabalhou e tentou evitar, mas foi derrotado no Congresso.
Com isso, criou uma novela em torno do tema, cujo final gravou apenas no último segundo, para gerar um clima de suspense. Dizem que só ali decidiu o que iria fazer. Difícil acreditar.
Seja o que for, Lula, no epílogo, saiu como o mocinho da história, deixando os aposentados aliviados e felizes. Sua equipe econômica ficou com o papel de bandido do folhetim eleitoral.
Posso estar enganado, mas ele tirou até do Congresso boa parte dos "méritos" pela bondade. Fora aqueles tradicionais defensores dos aposentados, como o senador Paulo Paim (PT-RS), acredito que ninguém vá se lembrar de algum parlamentar que tenha sido responsável pela medida.
A oposição, do seu lado, que tentou impor a Lula um desgaste eleitoral diante da aposta de que ele vetaria a medida, nem entrou nas cenas finais. Ficou relegada a um papel de figurante, enquanto Dilma Rousseff ficou feliz e saltitante.
Em outras palavras, Lula fez do limão que o Congresso lhe entregou uma limonada eleitoral.


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