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VALDO CRUZ
Limonada eleitoral
BRASÍLIA - Pois bem, o presidente
Lula, com seu dom de prestidigitador, deu uma aula de como criar
um "falso dilema" e dele tirar o máximo proveito possível.
Foi assim com a novela do aumento de 7,7% das aposentadorias
de valor acima do salário mínimo,
aprovado pelo Congresso e criticado pelo governo desde o início como uma farra eleitoral.
Depois de sua equipe econômica
insistir publicamente no veto à medida e de ele próprio dar seguidas
declarações de que poderia acatar a
orientação de seus ministros, Lula
posou de amigo dos aposentados e
sancionou o aumento real aprovado pelos parlamentares.
Estrategicamente, usou todo o
tempo que tinha para anunciar sua
decisão. Deixou para o último minuto do segundo tempo a divulgação da bondade eleitoral. Uma bondade contra a qual seu governo trabalhou e tentou evitar, mas foi derrotado no Congresso.
Com isso, criou uma novela em
torno do tema, cujo final gravou
apenas no último segundo, para
gerar um clima de suspense. Dizem
que só ali decidiu o que iria fazer.
Difícil acreditar.
Seja o que for, Lula, no epílogo,
saiu como o mocinho da história,
deixando os aposentados aliviados
e felizes. Sua equipe econômica ficou com o papel de bandido do folhetim eleitoral.
Posso estar enganado, mas ele tirou até do Congresso boa parte dos
"méritos" pela bondade. Fora
aqueles tradicionais defensores
dos aposentados, como o senador
Paulo Paim (PT-RS), acredito que
ninguém vá se lembrar de algum
parlamentar que tenha sido responsável pela medida.
A oposição, do seu lado, que tentou impor a Lula um desgaste eleitoral diante da aposta de que ele vetaria a medida, nem entrou nas cenas finais. Ficou relegada a um papel de figurante, enquanto Dilma
Rousseff ficou feliz e saltitante.
Em outras palavras, Lula fez do
limão que o Congresso lhe entregou
uma limonada eleitoral.
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