São Paulo, quinta-feira, 17 de junho de 2010

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CARLOS HEITOR CONY

Contra a maré

RIO DE JANEIRO - Como se não bastassem os problemas que nos afligem, com violência nas cidades e nos campos, esquartejamento em penitenciárias rebeladas e corrupção nas altas esferas da administração pública, a mídia de repente decidiu se preocupar com a castidade dos padres.
Ficamos sabendo que mais de 40% dos sacerdotes católicos já mantiveram relações com mulheres em nível acima do platônico.
O mundo não virá abaixo por causa disso. É problema que diz respeito ao indivíduo que faz voto de castidade e não o cumpre. Em absoluto interfere com o ministério pastoral. Um médico leproso ou aidético pode curar ou melhorar as condições de vida de um portador da mesma doença.
Curiosamente, recebi um e-mail que me ensinou o que eu não sabia. A castidade teria sido inventada pelos católicos, e os dez mandamentos de Moisés são realmente nove.
O sexto mandamento, que na Bíblia judaico-cristã diz textualmente "não pecar contra a castidade", segundo o missivista diz apenas "não matarás", que todo mundo pensa ser o quinto.
Outra confusão sobre o assunto: o celibato dos padres católicos não é dogma de fé, mas simples costume. Pode ser abolido a qualquer momento. A castidade é apenas uma virtude, como a humildade, a caridade e até mesmo a pobreza. Há ordens religiosas em que o voto de pobreza é obrigatório. Faz quem quer e pode.
Um papa ou um concílio podem abolir o celibato dos sacerdotes. Não podem, porém, proibir que qualquer um pratique com lucidez uma virtude. Ninguém tem a obrigação de ser casto, humilde ou caridoso. A virtude é uma força, não um poder.
Eu deveria estar escrevendo sobre a Copa do Mundo, a estreia do Brasil. Preferi remar contra a maré, evitando a redundância.


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