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CARLOS HEITOR CONY
Contra a maré
RIO DE JANEIRO - Como se não
bastassem os problemas que nos
afligem, com violência nas cidades
e nos campos, esquartejamento em
penitenciárias rebeladas e corrupção nas altas esferas da administração pública, a mídia de repente decidiu se preocupar com a castidade
dos padres.
Ficamos sabendo que mais de
40% dos sacerdotes católicos já
mantiveram relações com mulheres em nível acima do platônico.
O mundo não virá abaixo por
causa disso. É problema que diz
respeito ao indivíduo que faz voto
de castidade e não o cumpre. Em
absoluto interfere com o ministério
pastoral. Um médico leproso ou aidético pode curar ou melhorar as
condições de vida de um portador
da mesma doença.
Curiosamente, recebi um e-mail
que me ensinou o que eu não sabia.
A castidade teria sido inventada pelos católicos, e os dez mandamentos de Moisés são realmente nove.
O sexto mandamento, que na Bíblia judaico-cristã diz textualmente
"não pecar contra a castidade", segundo o missivista diz apenas "não
matarás", que todo mundo pensa
ser o quinto.
Outra confusão sobre o assunto:
o celibato dos padres católicos não
é dogma de fé, mas simples costume. Pode ser abolido a qualquer
momento. A castidade é apenas
uma virtude, como a humildade, a
caridade e até mesmo a pobreza. Há
ordens religiosas em que o voto de
pobreza é obrigatório. Faz quem
quer e pode.
Um papa ou um concílio podem
abolir o celibato dos sacerdotes.
Não podem, porém, proibir que
qualquer um pratique com lucidez
uma virtude. Ninguém tem a obrigação de ser casto, humilde ou caridoso. A virtude é uma força, não
um poder.
Eu deveria estar escrevendo sobre a Copa do Mundo, a estreia do
Brasil. Preferi remar contra a maré,
evitando a redundância.
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