São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 2006

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MARTA SALOMON

A Canudos de Lembo

BRASÍLIA - Ao comparar a crise de segurança em São Paulo à Guerra de Canudos, travada na Bahia há mais de cem anos, o governador Cláudio Lembo teria dado um sinal -ainda que enviesado- de que está disposto a aceitar tanques e soldados do Exército no Estado.
Foi o que entenderam interlocutores de Lembo ontem, na tentativa de dar algum sentido às declarações do governador na véspera.
Lembo notou que o PCC está se valendo de pessoas pobres para engrossar suas fileiras contra o Estado em ondas de ataques que, agora reconhece, fez com que a segurança fugisse do controle. Segundo ele, São Paulo estaria repetindo uma guerra de Canudos.
Certo: as investigações da CPI do Tráfico de Armas revelam que o PCC já recruta jovens sem antecedentes criminais no Nordeste para incrementar a captação de dinheiro do grupo.
Mas o dado não basta para o governador sugerir alguma semelhança entre o ex-punguista e líder da facção criminosa Marcola e o beato anti-republicano Antônio Conselheiro. Ou entre criminosos que aterrorizam São Paulo e os rebelados do sertão.
A participação do Exército no combate ao PCC ajudaria a entender a comparação. Na sexta-feira, o ministro da Justiça reiterou a oferta do governo federal. Mas Márcio Thomaz Bastos deixou São Paulo sem uma resposta definitiva do governador. Lembo hoje tem reunião prevista com o comandante militar do Sudeste.
Resta saber se a resistência do secretário Saulo de Castro Abreu Filho ao envio de soldados seria mais forte que a dos sertanejos do século passado, em Canudos.
Se o Exército dará jeito em São Paulo é outra história. A guerra na Bahia durou quase um ano. Contaram-se mais de 30 mil mortos. A cidade ficou destruída.


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