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MARTA SALOMON
A Canudos de Lembo
BRASÍLIA - Ao comparar a crise
de segurança em São Paulo à Guerra de Canudos, travada na Bahia há
mais de cem anos, o governador
Cláudio Lembo teria dado um sinal
-ainda que enviesado- de que está
disposto a aceitar tanques e soldados do Exército no Estado.
Foi o que entenderam interlocutores de Lembo ontem, na tentativa
de dar algum sentido às declarações
do governador na véspera.
Lembo notou que o PCC está se
valendo de pessoas pobres para engrossar suas fileiras contra o Estado
em ondas de ataques que, agora reconhece, fez com que a segurança
fugisse do controle. Segundo ele,
São Paulo estaria repetindo uma
guerra de Canudos.
Certo: as investigações da CPI do
Tráfico de Armas revelam que o
PCC já recruta jovens sem antecedentes criminais no Nordeste para
incrementar a captação de dinheiro
do grupo.
Mas o dado não basta para o governador sugerir alguma semelhança entre o ex-punguista e líder
da facção criminosa Marcola e o
beato anti-republicano Antônio
Conselheiro. Ou entre criminosos
que aterrorizam São Paulo e os rebelados do sertão.
A participação do Exército no
combate ao PCC ajudaria a entender a comparação. Na sexta-feira, o
ministro da Justiça reiterou a oferta do governo federal. Mas Márcio
Thomaz Bastos deixou São Paulo
sem uma resposta definitiva do governador. Lembo hoje tem reunião
prevista com o comandante militar
do Sudeste.
Resta saber se a resistência do secretário Saulo de Castro Abreu Filho ao envio de soldados seria mais
forte que a dos sertanejos do século
passado, em Canudos.
Se o Exército dará jeito em São
Paulo é outra história. A guerra na
Bahia durou quase um ano. Contaram-se mais de 30 mil mortos. A cidade ficou destruída.
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