RIO DE JANEIRO - O que mais impressiona hoje em algumas Casas legislativas não é o despreparo ou a ganância, mas a absoluta indiferença em relação à opinião pública.
Sei que é uma observação meio despropositada diante do consagrado pragmatismo que rege a política e pode parecer moralista. Mas é fato: as assembléias decidem as matérias mais absurdas sem nenhuma preocupação com cobranças futuras, até porque confiam na falta de memória do eleitorado. O máximo que podem sofrer é um desgaste momentâneo na mídia, também logo esquecido.
A Assembléia do Rio vota na próxima semana as contas de 2002 dos ex-governadores Anthony Garotinho (PMDB) e Benedita da Silva (PT), hoje, respectivamente, secretário de Segurança de Rosinha Matheus e ministra da Ação Social de Lula.
O Tribunal de Contas do Estado, apesar da tradição contemporizadora, encaminhou para a Assembléia um parecer que comprova que os dois deixaram o governo em situação calamitosa (que persiste), com déficit de R$ 2 bilhões e várias irregularidades, e pede a reprovação das contas.
Não é provável que isso aconteça. A Comissão de Orçamento da Alerj recusou o relatório, e o acordo entre PMDB e PT deve ser mantido em plenário. Se condenados, Garotinho e Benedita ficam inelegíveis. Mas eles não serão punidos.
A mesma Alerj aprovou em setembro o uso de recursos do Fundo Estadual de Saúde nas obras assistenciais da governadora. O sistema de saúde do Rio está um caos. Ainda assim, os deputados concordaram em desviar dinheiro para projetos paliativos.
O MP estadual agiu e conseguiu uma liminar na Justiça suspendendo a nova lei, mas ela foi cassada pelo presidente do TJ. Esperava-se que o procurador-geral de Justiça, Antônio Vicente, recorresse em nome do MP. Ontem ele anunciou que não o fará.
Assim, as instituições do Rio parecem todas submetidas à irracionalidade do jogo político e indiferentes à indignação pública. Indignação?


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