São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Família e identidade brasileiras
FRANCESCO SCAVOLINI
Impressionam também os dados do último livro da psicóloga californiana Judith Wallerstein, "Law and Divorce" ("Lei e Divórcio"), que tem fama de ser a mais importante investigadora em tema de divórcio e suas consequências, até porque vem acompanhando desde 1971 numerosos casos de filhos de divorciados (de famílias brancas californianas de classe média). Os dados da pesquisadora mostram que 25% das crianças não terminou o colegial (contra 10% de filhos "normais"), 60% precisaram de tratamento psicológico (contra 30%), 50% tiveram problemas com álcool e drogas antes dos 15 anos, 65% têm um relacionamento conflitivo com o pai. Apesar de a maioria desses filhos de divorciados estar com mais de 30 anos de idade hoje, apenas 30% deles se casaram e 50% já se divorciaram. Diante de tudo isso, o "San Francisco Chronicle" (jornal de uma das cidades americanas consideradas mais "progressistas") teve de admitir que "seus conceitos [de Judith Wallerstein] estão destinados a reabrir o debate sobre a família em nosso país". E o Brasil pode ficar afastado desse debate sobre a família? Claro que não! Existem, evidentemente, casos de matrimônios formalmente celebrados mas que de fato são nulos por vício de consentimento (por exemplo, quando a moça é "obrigada" a casar porque ficou grávida), casos esses que são previstos tanto no Código Canônico (da igreja) como no Código Civil (do Estado). Todavia esses casos de nulidade matrimonial, que podem ser resolvidos através de uma sentença judicial, não deveriam ter sido a desculpa para introduzir na ordem legal o divórcio. As consequências devastadoras da crise da instituição familiar para toda a sociedade deveriam fazer com que nós todos (de maneira especial os detentores do poder público) parássemos um pouco e meditássemos, para que cada um, dentro de suas possibilidades de atuação, criasse condições morais, econômicas e sociais que garantissem a dignidade da vida humana e da família. Essa obrigação moral e jurídica vale especialmente para todos aqueles que se dizem cristãos. Realmente são adequadas para o Brasil as belíssimas palavras de Dostoiévski citadas na recente entrevista de Eduardo Giannetti à Folha (Pág. A12, 6/10): "Se um grande povo não acreditar que a verdade somente pode ser encontrada nele mesmo, se ele não crer que ele apenas está apto a se erguer e a redimir a todos por meio da sua verdade, ele prontamente se rebaixa à condição de material etnográfico, e não de um grande povo. Uma nação que perde essa crença deixa de ser uma nação". Francesco Scavolini, 47, doutor em jurisprudência pela Universidade de Urbino (Itália), especialista em direito canônico, é membro do Comites (Comitê dos Italianos no Exterior) de São Paulo. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Jorge Bornhausen: Alimentos mais caros Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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