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CARLOS HEITOR CONY
Tal como antes
RIO DE JANEIRO - A acreditar no noticiário da semana que passou, Brasil, Argentina e Venezuela fizeram bonito em Monterrey ao obrigarem
os Estados Unidos a um recuo na Cúpula Extraordinária das Américas,
reunida naquela cidade mexicana.
Tenho uma estranha afinidade
com essas reuniões. Numa delas, em
Punta del Este, assisti à expulsão de
Cuba da OEA, o discurso irônico de
Che Guevara, dizendo que a Aliança
para o Progresso proposta por Kennedy limitava-se a uma verba para
construção de latrinas.
Anos mais tarde, aqui no Rio, não
assisti a nenhuma reunião, porque
fui com amigos para porta do hotel
Glória protestar contra o governo militar daquela época. Só tomei conhecimento da manchete que um jornal
argentino publicou: "Patearan el mariscal". Na PE da rua Barão de Mesquita, Antônio Callado traduziu para nós: "Vaiamos o marechal".
O tempo passou e parece que alguma coisa mudou, pelo menos para o
nosso lado. Os norte-americanos, que
em 1961 haviam proposto a expulsão
de Cuba do sistema pan-americano,
querem agora expulsar os países corruptos do mesmo sistema. No passado, para os EUA, corrupção era ser de
esquerda. O chanceler do Haiti, que
representava a ditadura mais corrupta do hemisfério, foi o porta-voz
de Foster Dulles na reunião, da qual
ele nem quis participar, ficando na
sua suíte do hotel San Rafael.
Agora é o próprio Bush que dispensa os chanceleres e dá o seu recado
aos demais presidentes. Três deles
reagiram à altura. Afinal, quem estabelece qual o país ou quais os países
são corruptos? Quem separa o joio do
trigo?
Tal como em 1961, o propósito da
política norte-americana é isolar a
Venezuela, a Colômbia e talvez o
próprio Brasil, preparando o terreno
para um novo e gigantesco bloqueio
continental à economia dos países
não alinhados integralmente à sua
política de hegemonia mundial.
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