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ELIANE CANTANHÊDE
Lula: entre Uribe e Chávez
BRASÍLIA - Lula deve aproveitar seu primeiro vôo no AeroLula, amanhã,
à região Norte, para conversar com o
presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, que está em pé de guerra com o da
Venezuela, Hugo Chávez.
O Brasil pode berrar o quanto quiser quando o assunto é Oriente Médio, por exemplo, porque ninguém
ouve. Mas, quando a crise é na América do Sul, a coisa é diferente.
A intenção de Lula é intermediar o
diálogo entre Uribe e Chávez, rompidos depois que a Colômbia pagou militares venezuelanos para seqüestrar
um membro das Farc (grupo terrorista colombiano) em Caracas.
Petistas e tucanos do Itamaraty estão se matando, mas nisso os dois lados concordam: foi um erro de Uribe;
Chávez está coberto de razão ao romper relações até que venha um pedido
formal de desculpas. E a última coisa
do mundo que o Brasil quer é um
conflito entre os dois vizinhos.
O confronto é histórico, mas tem se
aprofundado mais e mais diante de
projetos políticos e ideológicos antagônicos. Quanto mais a Colômbia se
aproxima econômica e militarmente
dos EUA, mais a Venezuela se movimenta rumo à Cuba de Fidel. Um é o
símbolo do neoliberalismo, e o outro,
o do dirigismo econômico.
A questão do seqüestro é intrincada. Uribe quer recorrer a fóruns multilaterais, como a OEA (Organização
dos Estados Americanos), mas Chávez só admite conversas bilaterais
-e depois do pedido de desculpas.
Se há um país e um presidente com
peso e legitimidade para tentar meter
a mão nessa história são o Brasil e
Lula. Até porque a política brasileira
nem é de todo neoliberal nem é de todo pró-Cuba. Sob outra ótica: tem
traços neoliberais e de simpatia por
Fidel. Não chega a bater de frente
com a Colômbia e conversa bem com
a Venezuela de Chávez.
Como o Brasil se esforça para assumir liderança na região, o novo imbróglio vem bem a calhar. Perigoso é,
mas a política externa tem se alimentado justamente disso: desafios, riscos
e intervenções com ares grandiosos.
Quanto pior, melhor?
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