São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2001

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NOVOS SINAIS GLOBAIS

Com pouco menos de um mês à frente da Presidência dos Estados Unidos, o republicano George W. Bush já começa a mostrar a que veio. O ataque aéreo nas cercanias de Bagdá (Iraque), na sexta-feira, coloca em evidência o poderio bélico dos EUA. Essa ofensiva militar pode trazer mais instabilidade aos mercados.
Há mais sinais na condução da política externa norte-americana que sugerem a transição de uma posição mais internacionalista para uma outra, com pinceladas de chauvinismo. As novas autoridades na área de comércio exterior, por exemplo, já deram a entender que não pretendem, neste momento, buscar no Congresso norte-americano o "fast track" (via rápida) -mais poder para firmar acordos internacionais.
Numa economia em desaquecimento, aliás, a reação corporativista dos sindicatos em defesa de empregos, por meio de políticas mais protecionistas, tende a ganhar força.
De outro lado, o fato é que, depois do fracasso da Rodada do Milênio, um número crescente de governos tem buscado como alternativa a implementação de acordos bilaterais.
O governo dos EUA, deixando em plano secundário a busca do "fast track" e mesmo passando a admitir que o cronograma da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) pode sofrer atrasos, reforça essa tendência, contra o ideal de uma liberalização comercial ampla e sincronizada.
Para o Brasil, esses novos sinais globais exigem ajustes na política externa. O atraso no cronograma da Alca atende à posição brasileira, mas há muito mais em jogo. Na prática, se as pressões unilaterais se multiplicam e o sistema de regulação multilateral se enfraquece, aumentam a complexidade e a dificuldade das negociações externas.
No entanto, são notórias as deficiências do Estado brasileiro no campo da política externa, em especial na diplomacia econômica. Do governo federal esperava-se mais em termos de dotar o país de estratégias, instituições e recursos humanos mais coordenados e ágeis no trato da "guerra" comercial. Mas esse foi outro campo em que imperou o excesso de confiança nos ares globalizantes dos anos 90.
Da mobilização da sociedade civil e do empresariado na estruturação da política externa à articulação entre Itamaraty, ministérios e agências que dividem o controle de políticas setoriais, fez-se pouco. Agora que mudam os ventos na economia mundial, com clara reafirmação de interesses nacionais -a começar da potência hegemônica, os EUA-, o Brasil é pego desprevenido. Faltam estratégia, enraizamento, recursos humanos e materiais.
Recentemente, novas iniciativas vêm ganhando corpo, delineando por exemplo uma política tecnológica para o país. Para avançar, o governo precisa ter mais confiança na importância do mercado brasileiro, reconhecida nos relatórios de agências internacionais de investimento e consultoria. Sem cair no xenofobismo inútil, é urgente aparelhar o Estado brasileiro e mobilizar a sociedade para o novo cenário mundial.


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