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NOVOS SINAIS GLOBAIS
Com pouco menos de um mês
à frente da Presidência dos Estados Unidos, o republicano George
W. Bush já começa a mostrar a que
veio. O ataque aéreo nas cercanias de
Bagdá (Iraque), na sexta-feira, coloca
em evidência o poderio bélico dos
EUA. Essa ofensiva militar pode trazer mais instabilidade aos mercados.
Há mais sinais na condução da política externa norte-americana que
sugerem a transição de uma posição
mais internacionalista para uma outra, com pinceladas de chauvinismo.
As novas autoridades na área de comércio exterior, por exemplo, já deram a entender que não pretendem,
neste momento, buscar no Congresso norte-americano o "fast track"
(via rápida) -mais poder para firmar acordos internacionais.
Numa economia em desaquecimento, aliás, a reação corporativista
dos sindicatos em defesa de empregos, por meio de políticas mais protecionistas, tende a ganhar força.
De outro lado, o fato é que, depois
do fracasso da Rodada do Milênio,
um número crescente de governos
tem buscado como alternativa a implementação de acordos bilaterais.
O governo dos EUA, deixando em
plano secundário a busca do "fast
track" e mesmo passando a admitir
que o cronograma da Alca (Área de
Livre Comércio das Américas) pode
sofrer atrasos, reforça essa tendência, contra o ideal de uma liberalização comercial ampla e sincronizada.
Para o Brasil, esses novos sinais
globais exigem ajustes na política externa. O atraso no cronograma da Alca atende à posição brasileira, mas
há muito mais em jogo. Na prática,
se as pressões unilaterais se multiplicam e o sistema de regulação multilateral se enfraquece, aumentam a
complexidade e a dificuldade das negociações externas.
No entanto, são notórias as deficiências do Estado brasileiro no
campo da política externa, em especial na diplomacia econômica. Do
governo federal esperava-se mais em
termos de dotar o país de estratégias,
instituições e recursos humanos
mais coordenados e ágeis no trato da
"guerra" comercial. Mas esse foi outro campo em que imperou o excesso de confiança nos ares globalizantes dos anos 90.
Da mobilização da sociedade civil e
do empresariado na estruturação da
política externa à articulação entre
Itamaraty, ministérios e agências
que dividem o controle de políticas
setoriais, fez-se pouco. Agora que
mudam os ventos na economia
mundial, com clara reafirmação de
interesses nacionais -a começar da
potência hegemônica, os EUA-, o
Brasil é pego desprevenido. Faltam
estratégia, enraizamento, recursos
humanos e materiais.
Recentemente, novas iniciativas
vêm ganhando corpo, delineando
por exemplo uma política tecnológica para o país. Para avançar, o governo precisa ter mais confiança na importância do mercado brasileiro, reconhecida nos relatórios de agências
internacionais de investimento e
consultoria. Sem cair no xenofobismo inútil, é urgente aparelhar o Estado brasileiro e mobilizar a sociedade
para o novo cenário mundial.
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