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CLÓVIS ROSSI
A estranha ética tucana
SÃO PAULO - Tasso Jereissati, o governador do Ceará, é um desses raros
políticos com os quais você troca
idéias e sai ganhando na troca, porque as dele em geral são melhores que
as suas.
Mas sou obrigado a desconfiar que
André Singer, que o entrevistou para
a Folha na sexta-feira, saiu perdendo
porque colheu um Tasso na pior forma possível.
Primeiro, essa história de criar uma
dissidência no PSDB soa a birra sem
consequências.
Mas o pior é a avaliação de que "o
partido precisa retomar o caminho
da ética, que foi a marca que lhe possibilitou chegar ao poder".
Não foi, não, caro Tasso. Foi o Plano Real e ponto.
Dois: resmungar que a aliança com
Jader Barbalho mancha o PSDB é esquecer, convenientemente, alianças
mais antigas, com o PFL, por exemplo, que deveriam manchar o partido. Não porque o PFL seja o demônio
e, o PSDB, o querubim. Apenas porque estiveram, sempre, do outro lado
da calçada, até a eleição de Fernando
Henrique Cardoso em 94.
Vejamos: a primeira candidatura
de FHC (para o Senado) foi em 78,
pelo MDB. Os caciques do PFL estavam todos na Arena, o partido do regime militar, que FHC combatia.
Depois FHC concorre à prefeitura
paulistana (85). O PFL apoia Jânio
Quadros.
Em 86, FHC disputa o Senado de
novo, na chapa que tem Orestes
Quércia como candidato ao governo.
O PFL vai de Antônio Ermírio. Em
89, FHC fica com Covas para presidente, o PFL tem candidato próprio
(Aureliano Chaves), mas seus caciques traem miseravelmente o partido
para apoiar Fernando Collor.
Daí até 94, o PFL paulista foi sempre linha auxiliar ou de Paulo Maluf
ou de Orestes Quércia, contra os candidatos do PSDB.
A menos que confessem que escolheram aliados e candidatos errados
a vida inteira, FHC e o PSDB terão
que admitir que fazem alianças por
puro oportunismo, o que pode ser tudo menos exemplo ético.
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