São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2001

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ELIANE CANTANHÊDE

Ouvido de mercador

BRASÍLIA - Ao acordar na quinta-feira, de ressaca pela fragorosa derrota nas eleições no Congresso, a primeira coisa que ACM leu nos jornais foi o fortalecimento de José Serra na disputa presidencial e a iminência da eleição de Jutahy Magalhães Jr. como líder do PSDB na Câmara.
Jutahy é inimigo de ACM na Bahia e tido como "serrista". Por dupla tabela, enfrentaria resistência de Tasso Jereissati, aliado de ACM e adversário de Serra na sucessão presidencial.
ACM deduziu que Serra está retirando todos os espaços de Tasso no PSDB e que a escolha de Jutahy era um ataque direto a ele. Algo como chutar cachorro morto, apesar de se sentir muito vivo.
Foi o estopim. Enlouquecido, ACM comparou FHC a Jader Barbalho na ótima entrevista à Folha publicada sexta-feira. Para quem não lembra, ele chama Jader de "ladrão". Logo...
É grave. Mas o melhor para FHC é tapar nariz e boca e não dar ouvidos. Porque ACM está perdendo seus outros superpoderes e tenta se agarrar a um: a reverberação na imprensa.
ACM tinha a presidência do Senado, que passou na quarta-feira para o arquiinimigo Jader Barbalho.
ACM tinha um grupo político forte e unido como um monobloco na Bahia, mas, vira e mexe, um cai fora.
ACM mandava e desmandava no PFL, mas Marco Maciel e sobretudo Jorge Bornhausen andam promovendo muitos jantares sem ele.
ACM não sabe ser contrariado, mas os candidatos mais fortes às lideranças partidárias na Câmara são seus piores inimigos baianos.
Assim, tudo o que ele precisa, neste momento, é de um bom bate-boca com o presidente da República.
Se FHC responder às provocações, manterá ACM na ribalta. Se mantiver o sangue de barata, a tendência é ACM recuar lentamente da primeira página para as páginas internas, dos altos para os pés de página.
A não ser que ele prove que Jader e FHC "são as mesmas pessoas". Não há um só ser vivo no governo e no Congresso que acredite nisso. Muito menos em provas.


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