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São Paulo, terça-feira, 18 de fevereiro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

"Go home", mas...

TÓQUIO - Mal o freguês entra na loja da cafeteria Starbucks na avenida Hibiya, pertinho do Palácio Imperial, a atendente canta: "Conitiuá" (boa tarde), ao que a segunda atendente faz coro.
O que há de errado nessa cena e o que ela tem a ver com a crise em torno do Iraque?
Simples: o álacre coro de "conitiuá" é a única coisa efetivamente japonesa disponível na loja da Starbucks. Tudo o mais segue o modelo norte-americano da rede, tremendo êxito.
Que a cadeia McDonald's seja americana, vá lá. Hambúrguer e Estados Unidos sempre foram sinônimos na memória coletiva. Mas café? Café era sinônimo, antes, de Brasil, hoje de Colômbia e Brasil. Por que então não há uma loja do "Café do Ponto" em cada esquina de Tóquio?
Porque, no café como na guerra, no hambúrguer como no comércio, os Estados Unidos não pedem passagem nem licença. Vão avançando, abrindo espaços, fincando suas bandeiras mesmo em lugares em que, supostamente, poderia haver um choque cultural capaz de resistir à invasão.
Um país como a Argentina, por exemplo, tendo sua carne o sabor que tem, deveria ter tido capacidade de resistir pelo menos um pouco à plastificação dos Mc's.
Como não há notícia de que "marines" estejam de plantão em cada lanchonete McDonald's ou em cada cafeteria Starbucks, só dá para concluir que o sucesso do "made in USA" é resultado do fato de que as pessoas gostam do modelo. Ponto.
É verdade que as marchas do fim de semana demonstram que as pessoas não estão gostando do belicismo norte-americano, levado ao paroxismo na presente administração.
Mas, em um debate em Davos, no mês passado, Dewi Fortuna Anwar, diretora de pesquisa do Centro Habibie (Indonésia), ironizou o antinorte-americanismo ao dizer que os manifestantes gritam "yankees, go home", mas acrescentam: "E levem-nos com vocês".
"Boutade" à parte, não é um mundo fácil este em que a mesma entidade é objeto de ódio e desejo.


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