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ELIANE CANTANHÊDE
Questão de pele
BRASÍLIA - Ontem foi a primeira vez em décadas que um presidente da
República foi pessoalmente ao Congresso discursar na abertura dos trabalhos legislativos. E não foi um presidente qualquer. Foi Lula, com sua
aura de início de mandato.
Não era de Lula, porém, que deputados e senadores falavam, ora aos
cochichos, ora em bom e alto som, pelo Congresso. Antes e depois do discurso presidencial, o assunto de ontem por ali foi outro: o grampo da
Bahia e o futuro de ACM.
Lula chegou a um plenário cheio e
presidido por um Sarney aliado e
amigo. Com ele, chegou também a
notícia: ACM decidira renunciar previamente à presidência da poderosa
Comissão de Constituição e Justiça, a
CCJ. "Para evitar constrangimentos."
Constrangidos, entretanto, já estão
todos. Perguntaram ao senador Roberto Freire (PPS-PE) se ACM não
deveria ser eleito por causa do grampo. E Freire: "Não deveria nem ter sido indicado". Mas por outro motivo:
a violação do voto secreto dos senadores, no mandato anterior.
Com a renúncia antecipada à CCJ,
ACM ganha tempo, torce para os
ânimos serenarem e vai trabalhar
contra uma CPI ou o processo no
Conselho de Ética -mais rápido e
fulminante que CPIs.
Agora, só falta combinar com sua
"ex-amiga" Adriana Barreto, que o
acusa frontalmente pelos grampos.
Como os dois conviveram durante
anos, ela pode saber coisas do arco-da-velha. Se resolve contá-las em depoimento à Polícia Federal...
Quanto ao discurso de Lula: também foi uma bomba. Admitiu preocupação com a inflação, com a desvalorização do real, com a possibilidade de guerra. Confirmou, assim, a
impressão geral de que amanhã vai
haver novo aumento de juros.
Nesse quadro e com as reformas encruadas, tudo o que Lula não quer
são CPIs. Se ontem, com discurso e
tudo, só se falava em ACM e grampo,
imagine com CPI. Nisso, ACM e Lula
concordam. A diferença é que o baiano quer salvar a própria pele, e Lula
não quer salvar a pele de ninguém.
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