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São Paulo, terça-feira, 18 de fevereiro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Questão de pele

BRASÍLIA - Ontem foi a primeira vez em décadas que um presidente da República foi pessoalmente ao Congresso discursar na abertura dos trabalhos legislativos. E não foi um presidente qualquer. Foi Lula, com sua aura de início de mandato.
Não era de Lula, porém, que deputados e senadores falavam, ora aos cochichos, ora em bom e alto som, pelo Congresso. Antes e depois do discurso presidencial, o assunto de ontem por ali foi outro: o grampo da Bahia e o futuro de ACM.
Lula chegou a um plenário cheio e presidido por um Sarney aliado e amigo. Com ele, chegou também a notícia: ACM decidira renunciar previamente à presidência da poderosa Comissão de Constituição e Justiça, a CCJ. "Para evitar constrangimentos."
Constrangidos, entretanto, já estão todos. Perguntaram ao senador Roberto Freire (PPS-PE) se ACM não deveria ser eleito por causa do grampo. E Freire: "Não deveria nem ter sido indicado". Mas por outro motivo: a violação do voto secreto dos senadores, no mandato anterior.
Com a renúncia antecipada à CCJ, ACM ganha tempo, torce para os ânimos serenarem e vai trabalhar contra uma CPI ou o processo no Conselho de Ética -mais rápido e fulminante que CPIs.
Agora, só falta combinar com sua "ex-amiga" Adriana Barreto, que o acusa frontalmente pelos grampos. Como os dois conviveram durante anos, ela pode saber coisas do arco-da-velha. Se resolve contá-las em depoimento à Polícia Federal...
Quanto ao discurso de Lula: também foi uma bomba. Admitiu preocupação com a inflação, com a desvalorização do real, com a possibilidade de guerra. Confirmou, assim, a impressão geral de que amanhã vai haver novo aumento de juros.
Nesse quadro e com as reformas encruadas, tudo o que Lula não quer são CPIs. Se ontem, com discurso e tudo, só se falava em ACM e grampo, imagine com CPI. Nisso, ACM e Lula concordam. A diferença é que o baiano quer salvar a própria pele, e Lula não quer salvar a pele de ninguém.


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