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São Paulo, terça-feira, 18 de fevereiro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

A guerra de Lula

RIO DE JANEIRO - Venho criticando, com entusiasmo talvez exagerado, o Fome Zero proposto por Lula em seus primeiros vagidos de presidente da República. Mas elogiei, também com entusiasmo, sua ida a Davos e seu discurso naquele fórum. Não poderia ter sido melhor, e aqueles que condenaram sua ida à Suíça não perceberam o alcance (simbólico, é verdade) da presença de uma voz clamando no deserto.
Também devo elogiar a maneira concisa e imediata com que Lula disse não à guerra pretendida pelos Estados Unidos. Diferentemente da tradicional tendência de seu partido de transferir todos os assuntos para as assembléias, conselhos, comissões e grupos de trabalho, Lula simplesmente disse não, sem necessidade de consultar diplomatas, políticos e militares. Nem precisava.
Quando o governo não quer ou não pode resolver um problema, a primeira medida que aparece no "Diário Oficial" é o decreto criando a comissão tal para, no prazo de tantos dias, decidir se os anjos são machos ou fêmeas -ou, na atual onda cor-de-rosa, se são uma coisa e outra, conforme as circunstâncias.
No passado recente, tivemos a sabujice do presidente Menem, que ofereceu a boa carne argentina para alimentar os canhões da Guerra do Golfo. E não foi a excelente carne do gado argentino que ele colocou à disposição do Estados Unidos. Foi a carne dos argentinos mesmo.
A determinação com que Lula disse não à guerra deveria ser mantida em outros departamentos, sobretudo no relacionado com o monitoramento de nossa economia pelos órgãos que conhecemos de outros carnavais.
O povo o elegeu para isso mesmo, para ser o Lula com suas limitações e possibilidades. É evidente que a classe política deseja transformá-lo num refém das forças que o apoiaram -faz parte do jogo. Mas seu compromisso maior é ser o Lula que o povo consagrou.


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