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CARLOS HEITOR CONY
A guerra de Lula
RIO DE JANEIRO - Venho criticando, com entusiasmo talvez exagerado, o
Fome Zero proposto por Lula em seus
primeiros vagidos de presidente da
República. Mas elogiei, também com
entusiasmo, sua ida a Davos e seu
discurso naquele fórum. Não poderia
ter sido melhor, e aqueles que condenaram sua ida à Suíça não perceberam o alcance (simbólico, é verdade)
da presença de uma voz clamando
no deserto.
Também devo elogiar a maneira
concisa e imediata com que Lula disse não à guerra pretendida pelos Estados Unidos. Diferentemente da tradicional tendência de seu partido de
transferir todos os assuntos para as
assembléias, conselhos, comissões e
grupos de trabalho, Lula simplesmente disse não, sem necessidade de
consultar diplomatas, políticos e militares. Nem precisava.
Quando o governo não quer ou não
pode resolver um problema, a primeira medida que aparece no "Diário Oficial" é o decreto criando a comissão tal para, no prazo de tantos
dias, decidir se os anjos são machos
ou fêmeas -ou, na atual onda cor-de-rosa, se são uma coisa e outra,
conforme as circunstâncias.
No passado recente, tivemos a sabujice do presidente Menem, que ofereceu a boa carne argentina para alimentar os canhões da Guerra do Golfo. E não foi a excelente carne do gado argentino que ele colocou à disposição do Estados Unidos. Foi a carne
dos argentinos mesmo.
A determinação com que Lula disse
não à guerra deveria ser mantida em
outros departamentos, sobretudo no
relacionado com o monitoramento
de nossa economia pelos órgãos que
conhecemos de outros carnavais.
O povo o elegeu para isso mesmo,
para ser o Lula com suas limitações e
possibilidades. É evidente que a classe política deseja transformá-lo num
refém das forças que o apoiaram
-faz parte do jogo. Mas seu compromisso maior é ser o Lula que o povo
consagrou.
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