São Paulo, quinta, 18 de junho de 1998

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AS BRAVATAS DE BRIZOLA

Leonel Brizola, candidato a vice-presidente na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva, começa a preocupar até mesmo o PT, que já teme veladamente os efeitos eleitorais da incontinência verbal e dos surtos nacionalistas do líder pedetista. Há mesmo boas razões para se preocupar com Brizola -e não apenas dentro do PT.
Em seu último arroubo inconsequente, Brizola defendeu a "retomada" da Vale do Rio Doce e qualificou o processo de privatização de "grande roubalheira". Não apresentou provas e foi além. Depois de defender uma auditoria em todas as empresas privatizadas, disse que, mesmo não havendo indícios de irregularidades no processo, será procurada alguma brecha jurídica para retomar o controle de qualquer empresa considerada estratégica. "O Estado vai ter que buscar seus caminhos para anular", argumentou.
Condenável em qualquer circunstância, a bravata parece ainda mais absurda, do ponto de vista da oposição, quando Lula e a direção do PT fazem um esforço para conter os radicais do partido e compor uma coalizão de centro-esquerda capaz de viabilizá-los eleitoralmente.
É difícil entender o que pretende Brizola com essa agitação leviana e que despreza contratos sem apontar provas que os desabonem. Tal atitude, no entanto, não é inédita na sua biografia tumultuada. Seus pendores populistas e seu radicalismo inconsequente colaboraram para enfraquecer e isolar o governo João Goulart, deposto pelos militares em 64.
No fim do remoto ano de 63, numa entrevista bombástica, Brizola dizia: "Nós queremos lutar, nós estamos preparados, e este será o começo da luta revolucionária pela libertação nacional". O país amargou um penoso regime autoritário durante duas décadas, democratizou-se e desde então vem procurando amadurecer politicamente. Brizola e seu caudilhismo boquirroto, no entanto, parecem ter sido congelados no tempo.



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