São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002

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A QUEDA DOS JUROS

A despeito da conjuntura internacional adversa, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) reduziu a taxa de juros básica em meio ponto percentual. Sua decisão foi justificada pelo fato de a inflação prevista para o próximo ano encontrar-se abaixo da meta.
A área econômica do governo tem aperfeiçoado o mecanismo de metas inflacionárias. Inicialmente, aumentou de 12 para 18 meses o período em que a meta poderia ser atingida. Depois, deslocou o centro da meta de 2003 (de 3,25% para 4%), aceitando margem maior de variação. Essas modificações eram cobradas por vários agentes para permitir maior tolerância da política monetária a choques externos. Isso porque o sistema de metas de inflação não exclui do índice de preço utilizado (IPCA) as variações temporárias e/ou os preços administrados. A flexibilização da política de metas inflacionárias permitiu a queda dos juros.
Dificilmente a pequena redução na taxa de juros básica irá desencadear impactos imediatos sobre crédito e taxas de juro pagas pelos consumidores. Mas desempenha alguma importância na formação das expectativas, sinalizando uma possível reversão na onda de pessimismo que paira sobre a economia e o mercado financeiro. A produção industrial havia registrado queda de 5,1% em maio em relação a abril. Os contratos futuros indicavam uma taxa de juros acima de 23% para janeiro, a taxa de câmbio saltara para R$ 2,90.
Logo após a decisão do Copom, a Bovespa subiu, e os contratos de juros na Bolsa de Mercadorias e Futuros caíram. Apenas a taxa de câmbio não cedeu, dada a escassez de moeda estrangeira, sobretudo para honrar compromissos externos.
Parece que se vai confirmando a hipótese de que a taxa de juros estava em patamar elevado demais e era um fator adicional de turbulência. Reduzindo os juros, as autoridades monetárias tornam a rolagem da dívida pública um pouco menos onerosa, contribuindo para evitar que sua trajetória saia de controle. Pena que, por excesso de conservadorismo do BC, a decisão de aliviar a política monetária não tenha sido tomada antes.


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