São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002

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A GUERRA DA SALSINHA

Um roteirista escrevendo uma comédia para Hollywood dificilmente teria concebido enredo mais mirabolante do que o da disputa entre Espanha e Marrocos pela ilhota de Perejil (nome espanhol) ou Leila (nome árabe). Traduzindo para o português, o rochedo, situado a poucas centenas de metros da costa marroquina, recebe a mais apropriada designação de "salsinha".
O que surpreende não é o fato de dois Estados contemporâneos manterem disputas territoriais, mesmo considerando que o território, no caso, não passe de uma ilhota minúscula na qual existe apenas um rochedo. A mesma Espanha disputa com o Reino Unido um outro rochedo, Gibraltar. O que é curioso -e de certa forma preocupante- é que Marrocos e Espanha tenham, ambos, mobilizado tropas para fazer valer suas pretensões territoriais.
No dia 11 de julho, um pelotão de gendarmes marroquinos ocupou a ilhota. Ontem, a Espanha mobilizou forças especiais, fragatas e helicópteros (segundo algumas fontes também submarinos) e conseguiu retomar Perejil. Nenhum dos seis soldados marroquinos opôs resistência.
Autoridades marroquinas classificaram a movimentação militar espanhola como um "ato de guerra". O ministro da Defesa espanhol, que afirma ter avisado o rei Juan Carlos da intervenção, insiste que apenas restabeleceu o "statu quo". Grande parte dos meios de comunicação espanhóis, bem como setores da população, mostrou-se entusiasticamente favorável a uma ação militar contra Marrocos. Para agravar a sensação de ridículo, os 19 países que compõem a Otan, a aliança militar liderada pelos EUA, se colocaram ao lado da Espanha nessa disputa.
Esse grotesco imbróglio da guerra da salsinha mostra que mesmo países relativamente desenvolvidos como a Espanha não estão imunes ao vírus do nacionalismo, que produz espasmos de irracionalidade.


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