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A GUERRA DA SALSINHA
Um roteirista escrevendo
uma comédia para Hollywood
dificilmente teria concebido enredo
mais mirabolante do que o da disputa entre Espanha e Marrocos pela
ilhota de Perejil (nome espanhol) ou
Leila (nome árabe). Traduzindo para
o português, o rochedo, situado a
poucas centenas de metros da costa
marroquina, recebe a mais apropriada designação de "salsinha".
O que surpreende não é o fato de
dois Estados contemporâneos manterem disputas territoriais, mesmo
considerando que o território, no caso, não passe de uma ilhota minúscula na qual existe apenas um rochedo. A mesma Espanha disputa com o
Reino Unido um outro rochedo, Gibraltar. O que é curioso -e de certa
forma preocupante- é que Marrocos e Espanha tenham, ambos, mobilizado tropas para fazer valer suas
pretensões territoriais.
No dia 11 de julho, um pelotão de
gendarmes marroquinos ocupou a
ilhota. Ontem, a Espanha mobilizou
forças especiais, fragatas e helicópteros (segundo algumas fontes também submarinos) e conseguiu retomar Perejil. Nenhum dos seis soldados marroquinos opôs resistência.
Autoridades marroquinas classificaram a movimentação militar espanhola como um "ato de guerra". O
ministro da Defesa espanhol, que
afirma ter avisado o rei Juan Carlos
da intervenção, insiste que apenas
restabeleceu o "statu quo". Grande
parte dos meios de comunicação espanhóis, bem como setores da população, mostrou-se entusiasticamente favorável a uma ação militar
contra Marrocos. Para agravar a sensação de ridículo, os 19 países que
compõem a Otan, a aliança militar liderada pelos EUA, se colocaram ao
lado da Espanha nessa disputa.
Esse grotesco imbróglio da guerra
da salsinha mostra que mesmo países relativamente desenvolvidos como a Espanha não estão imunes ao
vírus do nacionalismo, que produz
espasmos de irracionalidade.
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