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CLÓVIS ROSSI
Fim da história, história sem fim
SÃO PAULO - Talvez nada seja mais eloquente a respeito da degradação
da América Latina, após uma década de liberalismo, do que a corrente
que circula pela internet pedindo
doações, com um simples clique, para
as crianças famintas da Argentina.
Justo a Argentina, que, há três gerações, era um dos países mais ricos do
mundo. Justo a Argentina, país em
que até as crianças que pediam esmolas nas ruas e/ou nos restaurantes
se vestiam decentemente.
Hoje, informa a corrente, já são 15,4
milhões os argentinos que vivem
abaixo da linha de pobreza -contra
11,7 milhões um ano antes.
Hoje à noite, aliás, haverá debate
no Parlamento Latino-Americano
(Memorial da América Latina)
-cuja idéia-força é "Argentina em
crise - Solidariedade, tarefa de todos".
Um quarto de século atrás, até participei de grupos de solidariedade à
Argentina (e a outros países sul-americanos), mas a devastação que puxava a solidariedade era de outra natureza: tratava-se de ditaduras selvagens, que sempre geram um cortejo
de exilados e perseguidos (para não
mencionar os mortos).
Em plena vigência da democracia,
ver a Argentina precisar de novo de
solidariedade ultrapassa os piores pesadelos. Ainda mais que a Colômbia,
o Paraguai, o Peru, o Uruguai, a Venezuela e o Equador também precisam (para não falar do Brasil).
Que desgraçada é a história da
América Latina. Depois do mergulho
nas trevas das ditaduras, nos anos 60
e 70, acreditava-se que a democracia
seria o sétimo de Cavalaria, que viria
resgatá-la. Não foi (o que não anula,
pelo amor de Deus, os méritos da liberdade recuperada).
Depois, vendeu-se o neoliberalismo
como a nau em que a região navegaria rumo ao paraíso. Foi o contrário:
a América Latina está de novo descendo aos infernos. Houve até quem
dissesse que o triunfo do capitalismo
seria o fim da história. Não para a
América Latina, que vive uma história sem fim (e sempre triste).
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