São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Centenários

RIO DE JANEIRO - Não sei nem quero saber quem inventou a mania de comemorar os centenários. Mas, já que eles existem, devemos comemorá-los com boa vontade. Eles podem nos ensinar coisas inúteis, como o fato de que numa certa trattoria de Nápoles foi feita a primeira pizza marguerita.
Ensinam também coisas úteis. Neste ditoso ano de 2002, teremos centenários importantes: o de JK, o de Carlos Drummond de Andrade, o de Sérgio Buarque de Holanda, o de Lúcio Costa e até os cem anos do meu time, o Fluminense, que atravessa boa fase.
Nem devemos esquecer o centenário da Universidade Candido Mendes, pioneira em muitos setores do ensino superior no Brasil, e devemos torcer para que possamos comemorar o centenário de seu atual reitor, Candido Mendes. Consegui a notável proeza de ser colega dele num vestibular, no CPOR, e agora na ABL.
Mas, se devemos comemorar centenários, com maiores razões devemos comemorar os bicentenários e, felizmente, o Sérgio Paulo Rouanet, nesta semana, em ensaio publicado no "Mais!", festejou os 200 anos de Victor Hugo, que um dia será considerado como o gigante do seu século.
Passou de moda admirá-lo como poeta e romancista. Até mesmo como o homem corajoso que, no 2 de dezembro, colocou no peito a faixa tricolor e foi para a barricada defender a legalidade.
Li não sei onde um artigo que espinafrava Castro Alves. Entre os insultos, o articulista disse que o poeta baiano não passava de um Victor Hugo tropical.
Sei da existência de um Faulkner do Piauí e muito honrado ficaria se me chamassem de Flaubert do Lins de Vasconcelos. Mas voltando a Victor Hugo: a sua poesia pode ter saído de moda. Poetas que vieram depois mudaram até mesmo a forma e o conteúdo do poema.
Mas o romancista continua insuperável. Construiu verdadeiras catedrais e, daqui a 200 anos, algum ator que ainda não nasceu fará o Corcunda e o Jean Valjean.



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