São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

O sono de Lula

SÃO PAULO - Comecemos por comparar um pouquinho as políticas de Lula e de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso:
1 - Política monetária - É restritiva como a de FHC. Os juros podem ter subido um pouco antes e caído mais depois, mas continuam obscenos e entre os mais altos do mundo.
2 - Política fiscal - É mais restritiva que a anterior, por ter elevado o superávit primário (receita menos despesa, fora juros). Tira oxigênio de uma economia que respira com dificuldades há anos.
3 - Política cambial - Câmbio flutuante, como vigorou no segundo período FHC.
Vê-se, pois, que os três instrumentos básicos de política econômica são idênticos. Pode variar a intensidade, mas a fórmula é a mesma.
Em matéria de políticas sociais, o PT jurava que faria muito mais e muito melhor que qualquer governo dos 502 anos anteriores.
Bom, a política é a mesma. Pode ter aumentado o número de beneficiários do Bolsa-Escola, mas a essência continua sendo a tal política compensatória ou, cruamente, esmola pública para os brasileiros que não têm emprego/renda suficiente.
Pior: não está no horizonte o momento em que, além da compensação pela exclusão, tais brasileiros tenham perspectiva de emprego/renda.
Aliás, sobre o desempenho social do governo, o julgamento é do próprio Lula, na entrevista que deu anteontem: "Quem tem 44 programas termina não tendo nenhum".
Antes, Lula já havia emitido outro julgamento, ao trocar dois dos responsáveis pela área social (Benedita da Silva e José Graziano). Alguém já viu substituir funcionários de áreas que funcionam bem?
Vistos os resultados medíocres desse tipo de política em matéria de desenvolvimento humano, conforme o mais recente ranking da ONU, é impossível discordar do deputado Ivan Valente (que também é do PT, mas ainda não esqueceu o que disse ou escreveu) quando afirma: "A continuidade dessa ortodoxia deveria tirar o sono de um governo popular".


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