São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Autocrítica do presidente

BRASÍLIA - "Quem tem 44 programas termina não tendo nenhum."
A crítica é do presidente da República, referindo-se aos programas para crianças e adolescentes. Admitindo que não adianta nada ter "um pedacinho daqui, um pedacinho dali", um em cada ministério, Lula anunciou para esta semana uma reunião para encarrilhar o trem e buscar um "carro-chefe". Uma "guerra", avisou.
Se, depois de um ano e meio de mandato, o presidente não entende como isso acontece, muito menos nós conseguimos compreender.
O governo petista parece pródigo em criar programas, dar-lhes nomes impactantes, anunciá-los com pompa e depois jogá-los no limbo. É o que se conclui da abundante lista de projetos que têm dinheiro e não usam.
Novos exemplos? Vamos lá: o ano já está na metade, mas o programa de Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente só usou 13% dos recursos previstos, o da Escola Básica Ideal, 8%, e o de Valorização e Formação de Professores e trabalhadores da Educação, 17,6%.
Possibilidades: os programas eram só para eleitor ver; seus gestores não entendem nada de administração pública e não sabem usar o dinheiro; os ministros do PT são craques em desmontar os programas de seus antecessores do PT ou, ainda, o Palocci está segurando a grana para fazer ajuste fiscal. Ou tudo isso, enfim.
Em entrevista a "Jornalistas Amigos da Criança", título concedido pela Andi (ONG ligada ao tema), Lula disse que dinheiro não é o mais importante, que a verba do ano pode muito bem ser toda gasta só num mês -em setembro, citou como hipótese- e que o mais importante, mesmo, no duro, é a família.
Cuidar do pai e da mãe, eis a prioridade. Ok, presidente. Então, façamos o seguinte: acabemos com programas de mentirinha e passemos a investir mais no principal, os juros baixando, a economia crescendo e os empregos surgindo.
Pais e mães vão ficar bem melhores, jovens vão poder entrar no mercado, e crianças e adolescentes serão felizes para sempre. Amém.


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