São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

O arsenal do FMI

RIO DE JANEIRO - Regras em vigor desde 1974, transformaram o FMI num braço armado do governo norte-americano, tão eficiente e letal como seu assombroso arsenal militar. É evidente que o FMI não dispõe de porta-aviões, de mísseis inteligentes e de armas nucleares.
Mas está armado de forma equivalente não apenas para defender os interesses econômicos e financeiros dos Estados Unidos como para atacar qualquer economia que tenha a veleidade de se opor a esses interesses.
Citarei dois pontos de um texto redigido pelo Escritório de Monitorização do Governo (GAO), braço do Congresso norte-americano que fiscaliza os atos do Executivo.
1) "O Tesouro deve instruir o diretor-executivo dos EUA a usar sua voz e seu voto em nome dos EUA para se opor a qualquer assistência do FMI a produção ou extração de qualquer produto ou mineral para exportação se houver um excedente nos mercados mundiais e se a exportação de tal produto ou mineral causar dano substancial aos produtores norte-americanos do mesmo ou semelhante produto ou mineral competidor" (ponto 24);
2) "O governo dos EUA deve se opor à extensão de qualquer empréstimo ou assistência financeira ou técnica do FMI a qualquer país que o presidente dos EUA determine como fornecedor de equipamento de reprocessamento nuclear a qualquer outro país ou receptor de tais equipamentos materiais ou tecnologia a qualquer outro país" (ponto 44).
No primeiro desses dois pontos, o FMI estabelece que o comércio de produtos e minerais deve ser submetido à absoluta prioridade dos produtos e minerais dos Estados Unidos. No segundo, garante a hegemonia nuclear para os países que já se beneficiam do acesso à tecnologia atômica, impedindo que outros países venham a adquirir condições de explorar uma fonte de energia que pode ser usada para fins militares ou pacíficos.
É bobagem demonizar o FMI. Sem ajuda de ninguém, ele próprio se encarregou disso.


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